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Coincide este artigo com o primeiro dia de um novo ano e início de uma década. Momento simbólico, em que renovamos desejos e sonhos de dias melhores. Vivo hoje num país diferente, para melhor, do que aquele que conheci durante a minha infância e juventude. Onde o acesso à saúde, à educação e habitação condigna, entre outros, eram privilégio de uma parte minoritária da população. É por isso razoável e justo que a análise prospetiva tenha em conta o enorme avanço civilizacional que o Portugal democrático representa. O que não nos deve impedir de perceber o que correu menos bem e desejar, ou sonhar, a sua correção.
Porque não é aceitável a perda inexorável de população de todo o interior, fruto de políticas sucessivas que pouco ou nada fizeram para o evitar. Como não entendo como continuamos a ter concelhos sem formação ao nível do Ensino Secundário, com centros de saúde que encerram às 20 horas e não garantem sequer um acesso decente ao hospital mais próximo, ou que deixaram mesmo de ter estação de correios e/ou balcão da Caixa Geral de Depósitos. Mas que pagam impostos iguais a todos os que têm garantidos estes serviços, ditos como o sinal da presença de um Estado que afinal nada se sente e pouco lhes dá.
Sonho com um país que olha cada freguesia, cada concelho, como o mais importante de cada dia, não apenas nos momentos de infelicidade. Com um diferencial fiscal significativo e transparente para todos os que, individual ou coletivamente, insistem em manter viva esta parte do território nacional. Imagino a coesão territorial como um desígnio coletivo, não apenas um conjunto vazio a preencher os limites de um espaço desenhado para eleitor ver.
Sonho ainda com um país que não cede aos radicalismos, sejam dos que me querem proibir de provar um pouco de carne de uma natureza generosa, aos do confisco fiscal esquerdizante, dos Venturas de verdades fáceis ou até do subtil Mundo perfeito de um liberalismo desregulado. Não só porque foi este o país onde me fizeram nascer, mas também aquele que pude livremente escolher para viver.
*Prof. catedrático, vice-reitor da UTAD