A sueca é um jogo exigente. É preciso saber, a cada momento, que cartas foram jogadas, para ter a clara noção do que fazer com as que sobram. É preciso ler nos olhos dos adversários o bluff que uma cartada menos ortodoxa traz consigo. É preciso perceber os movimentos e as opções do nosso companheiro de mesa, para arquitetar um ataque consistente, ou uma defesa robusta. Tudo se compõe melhor com a ajuda da sorte. Mas a sorte é como um raio: nunca se sabe onde vai cair. Por isso, um bom jogador não pode aguardar pacientemente que ela apareça. Um bom jogador contraria o azar com uma estratégia que tire das cartas tudo o que elas possam dar. Além de exigente, a sueca é um jogo inteligente.
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A sueca é também um jogo de amigos. Foi certamente esta circunstância que juntou muitas vezes à mesa Eurico de Melo, ontem falecido (ver páginas 2 e 3), Vieira de Carvalho (também já desaparecido), Silva Peneda (hoje presidente do Conselho Económico e Social), Couto dos Santos (ex-ministro e atual empresário), António Marques Mendes e, mais tarde, o seu filho Luís Marques Mendes (ex-presidente do PSD).
Este conjunto de sociais-democratas ficou conhecido como o "grupo da sueca". Depois de refeiçoar num restaurante da Via Norte, no Porto, geralmente ao fim de semana, batiam uma cartas durante a tarde. Eurico de Melo - o "vice-rei do Norte" - era o mais influente de entre todos. Muitas causas, muitos anseios, muitos problemas da região eram debatidos naquelas mesas, e depois por ele levados (e tantas vezes resolvidos) a quem de direito.
Em bom rigor, o "grupo da sueca" era, ao mesmo tempo, um grupo de amigos e um grupo de políticos com vontade e capacidade para influenciar os atores e decisores do Poder Central. A história encarregar-se-á de mostrar com maior clarividência o que a região ganhou com a ação concertada do "grupo da sueca". Curiosamente, o presente mostra com intensa nitidez a falta que grupos como este fazem ao Norte.
Um exemplo dos dias que correm. Os líderes das distritais do Porto do PSD, do PS e do PCP reclamavam nas páginas da edição de ontem do JN contra a "prática discriminatória" que o Governo tem usado com os municípios do Norte. Em causa estão a compra pelo Estado à Câmara de Lisboa dos terrenos do aeroporto e do Centro Cultural de Belém e o tratamento de favor dado à Câmara de Loures.
Ora, se todos estão de acordo relativamente à discriminação imposta ao Norte, por que não se sentam à mesma mesa e desenham um protesto veemente, que junte vozes ao argumentário das reclamações, que junte gente às palavras? É assim tão difícil perceber que a união faz a força? Olhem para o exemplo de Eurico de Melo. E joguem uma suecada depois de concertarem posições em defesa da região.