Lá diz o povo que o que nasce torto tarde ou nunca se endireita. Também podia ser, mas o pretexto não é desta vez o Novo Banco. O destaque vai para a TAP e para os 946 milhões de euros com que os contribuintes de todo o país, de Bragança a Faro, vão encher os cofres da companhia aérea lisboeta (se for preciso, sobe aos 1200 milhões).
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Foi Rui Rio quem levou ontem o tema para o debate parlamentar sobre o Orçamento Suplementar: "A TAP não se pode tornar num outro Novo Banco; num buraco negro que continuamente vai sugando os impostos dos já tão massacrados contribuintes portugueses". Não pode. Não devia. Mas vai. E mesmo não sendo da responsabilidade direta do líder atual, é importante recordar que foi um Governo do PSD que, dois dias depois de saber que tinha os seus dias contados, e que vinha aí a "geringonça", avançou à pressa com a privatização de 61% do capital da TAP a troco da fabulosa quantia de 10 milhões (os outros 344 milhões não contam, serviram para capitalizar a empresa que passou a ser de Pedrosa e Neeleman). Melhor só a solução seguinte: o Governo do PS pagou 1,9 milhões e ofereceu uma garantia do Estado relativa à dívida financeira da empresa no valor de 615 milhões, a troco de 11% do capital social, mas sem capacidade de decisão sobre a gestão da empresa. Ou seja, a troco de coisa nenhuma. Rui Rio deixou claro que não aprecia o modelo acionista, lembrou que a TAP vai receber quase o dobro do Serviço Nacional de Saúde (504 milhões), e nem sequer se esqueceu que se trata de uma empresa de "vocação regional". Sucede que, não aprovar o Orçamento e a consequente injeção "significaria que a empresa fechava já amanhã". E, portanto, o PSD junta-se ao PS em mais um belo exemplo do capitalismo luso: socializar prejuízos e privatizar lucros. Digam lá se, depois disto, Rui Rio não merecia ter sido convidado para posar na cimeira de Belém, em que Marcelo, Costa e Ferro festejaram, em êxtase, a vinda da final a oito da Liga dos Campeões da bola. Em Lisboa, claro, que para o apeadeiro do Porto a TAP não tem voos internacionais.
*Chefe de Redação