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O acordo entre Montenegro e Ventura em matéria de regulação da imigração e restrições na obtenção da nacionalidade confirmou que a adesão da direita moderada a algumas das teses da extrema-direita avança sem controlo. E, se depender dos extremistas, a imigração será uma das questões que vão rodear a próxima legislatura. Basta ver como André Ventura se regozijou com o que alcançou com o primeiro-ministro, que deitou por terra o "não é não". É que a aceitação gradual de Luís Montenegro das posições do Chega incentiva a extrema-direita a radicalizá-las. Não tarda, estarão a exigir a deportação de 1,5 milhões de imigrantes que escolheram Portugal para trabalhar ou mesmo os de segunda geração, já nascidos em Portugal, como está o Vox a pedir em Espanha. Estaremos prontos para expulsar jogadores da seleção como Rafael Leão ou Geovany Quenda? A teoria xenófoba e racista é que existe um complô para substituir a população nascida em Portugal por pessoas de origem estrangeira. Claro está que as propostas do Governo ainda estão longe das do Chega, mas este acordo abriu as portas não só para a AD perder mais votos, mas para Ventura reforçar ainda mais as suas teses junto do eleitorado. Seria reconfortante que, vindo aí o novo Orçamento do Estado, Montenegro se distanciasse claramente das posições mais extremistas do Chega.A radicalização contra os imigrantes é um fenómeno global que, infelizmente, acabou por encontrar a sua melhor plataforma na complacência dos partidos mais moderados, receosos de perder votos. Normalizar preconceitos inconsistentes com a realidade para fins eleitorais é um ato socialmente irresponsável.