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Em Portugal, só 30% dos jovens com menos de 30 anos conseguem viver sozinhos, sendo uma das taxas de emancipação mais baixas da Europa. A principal razão pela qual tantos jovens permanecem em casa dos pais muito depois de completarem os seus anos de formação é o elevado custo tanto da compra como do arrendamento de uma habitação e, claro, os baixos salários. Embora a crise imobiliária seja um problema generalizado, em Portugal atinge os jovens de forma particularmente dura porque nem um nível educacional mais elevado, nem um emprego estável garantem a possibilidade de lançar um projeto de vida independente.É a chamada tempestade perfeita: a insegurança no emprego leva à falta de recursos e incapacidade de acesso à habitação que, mais tarde, se torna um fosso entre gerações intransponível, desencadeando uma verdadeira crise social. Todos sabemos que um jovem com um salário de mil euros por mês (e já estou a ser generoso) não pode pagar uma renda ou pedir crédito à habitação para viver sozinho. Para comprar casa é necessário poupar para dar a entrada e quando se pede crédito, o ideal é que as despesas com a habitação não excedam 30% do rendimento. Ou seja, esta é uma situação absolutamente irrealista para um jovem em 2025. Se os seus pais e avós, não sem esforço e sacrifício, conseguiram ter uma casa própria, os jovens hoje têm dificuldade até em pagar uma renda. As consequências desta realidade, por exemplo, ao nível das taxas de natalidade, são evidentes. Estamos a condenar uma geração a não ter outras aspirações para além de herdar a casa de família, o que perpetua um modelo de desigualdade social a longo prazo. Enquanto isso, não vejo que os partidos estejam verdadeiramente preocupados com este flagelo.