O que se joga nas eleições do próximo domingo é muito mais do que a simples eleição de autarcas. O ato eleitoral de 29 de setembro é uma espécie de primárias das legislativas. É por isso que os líderes partidários têm suado as estopinhas para irem ao maior número de comícios possível. É por isso que cada capital de distrito é muito mais importante do que o seu valor facial. É por isso que a discussão entre quem tem a cabeça na forca nunca toca, nem ao de leve, nos problemas locais, mas sim nos nacionais.
Corpo do artigo
Verdade: uns não estão desligados dos outros. Isso não deveria obstar, porém, a que Passos, Seguro, Jerónimo e companhia deixassem uma palavrinha sobre o drama da desertificação, da centralização, da litoralização, da emigração, da falta da emprego e da necessidade de melhores respostas sociais.... Creio ser isso que os simpatizantes e militantes esperam ouvir quando recebem na sua terra as gradas figuras dos partidos, e não a discussão sobre o défice, o segundo resgate, o peso da realidade herdada, a insensibilidade dos alemães que não percebem o nosso esforço, etc., etc., etc...
Não foi sempre assim em anteriores eleições autárquicas? Foi. Porventura em menor grau, mas foi. Sucede que estas eleições são distintas de todas as outras.
Justamente porque o país vive no limite, só escolhendo os melhores seremos capazes de, talvez, dar um pulo para a rocha que está do outro lado do precipício. As autarquias são, por definição, a entidade administrativa que mais perto está dos cidadãos, logo que melhor os entende e melhor os pode servir.
No meio da tormenta em que estamos metidos, não vejo os líderes dos principais partidos a puxar pelo orgulho de quem os ouve, a enaltecer o esforço dos empresários locais, a falar de estratégias de desenvolvimento. Vejo-os, isso sim, a desenhar no horizonte uma tempestade perfeita. Cavaco pede nova ronda de negociações entre PSD, CDS e PS, modo de dizer que, se vier aí segundo resgate, a culpa não será dele. Passos já acena com o segundo resgate, atirando o peso para as costas de Portas. Portas esbraceja com o mesmo desespero de um náufrago. Seguro rodopia sobre si próprio.
Repito: é por isso que, mais do que nunca, o país precisa de autarcas capazes de lutar pelo seu concelho e de terem inteligência para procurar sinergias com os concelhos vizinhos. O Estado está a recuar em toda a linha em áreas que lhe cabe cobrir: é ver o exemplo da tragédia dos incêndios, ou da prestação de cuidados de saúde, ou na Educação, ou nos serviços sociais... Convém que os autarcas eleitos percebam que o problema lhes cairá no colo. E que o problema só se resolve se as autarquias forem capazes de atuar no patamar supramunicipal, intermunicipal e mesmo regional. A tempestade perfeita vai na direção deles.