O Governo grego anunciou, esta semana, "briefings" diários com os jornalistas. Por cá, sempre que se institucionalizaram estes encontros, a coisa correu mal. Os governantes acabaram por perceber que a abertura permanente de canais formais com os media, colocando-se na linha da frente responsáveis por pastas ministeriais, não combina com uma política que vive períodos de crise. Não me parece que na Grécia seja diferente, a menos que esses encontros sejam conduzidos por experientes porta-vozes ou que os jornalistas se demitam das suas funções: fazer perguntas incómodas.
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Os políticos e os jornalistas sempre mantiveram relações muito próximas, havendo, em alguns contextos, uma certa conivência que a crescente mediatização da política foi acentuando. Através de canais informais, tornou-se comum passar mensagens que depois são apresentadas como oriundas de fontes não identificadas (conhece-se a instituição donde provém essa informação, desconhecendo-se, contudo, o nome do seu autor) e anónimas (ignora-se tudo acerca de quem fala). Há também quem convide informalmente os jornalistas para pequenos-almoços ou mesmo almoços/jantares para discutir a atualidade do momento. O à-vontade desses momentos subtrai a suspeição de algum condicionamento da agenda e dos enquadramentos jornalísticos que essas conversas implicam. Ora, quando estes espaços vergam à tentação de se institucionalizarem, enfraquecem.
À esquerda, o Governo de António Guterres, a determinado momento, resolveu promover pequenos-almoços regulares com os jornalistas. Os promotores desta iniciativa minimizaram o ambiente de concorrência que já atravessava o campo mediático e ignoraram o facto de esses espaços multiplicarem a noticiabilidade do momento, sobretudo em períodos controversos. Esse descontrolo da agenda e a consequente polémica que lhe estava inerente tiveram uma consequência imediata: o fim abrupto dos encontros matinais.
Mais recentemente, um governo de Direita, o de Pedro Passos Coelho, lembrou-se de criar "briefings" diários, vergados a um complexo formato que previa que o Executivo enviasse previamente o tema em destaque nesse dia e, passados minutos, os jornalistas remeteriam as perguntas que queriam fazer. Os dois primeiros encontros coincidiram com a demissão do ministro das Finanças e com o pedido de demissão do ministro dos Negócios Estrangeiros e presidente do CDS, criando-se aqui um diálogo de surdos: o Governo queria falar do que corria bem, os jornalistas centravam-se no que estava mal. O Executivo percebe, então, que este modelo de comunicação tem profundas fragilidades e acaba por interromper os encontros. Mais à frente, tenta reabilitá-los. Sem sucesso. Os "briefings" expunham governantes frente a um número considerável de jornalistas em alturas em que seria mais sensato encolher as vias de comunicação, medindo convenientemente o que se diz e a quem se diz.
Por estes dias, o Governo grego anunciou reuniões diárias com os jornalistas para transmitir informações acerca do seu trabalho. Os princípios da transparência e da prestação de contas são fundamentais para uma democracia com maturidade, pelo que encarar os media como interlocutores importantes e estabelecer com eles canais permanentes de comunicação merece o nosso elogio. No entanto, essa política de abertura deve ter subjacente alguns requisitos: assessores bem treinados na comunicação política, porta-vozes ágeis para substituir governantes em casos inesperados, políticos competentes no que fazem e com grande domínio dos códigos mediáticos. Adicionalmente, é preciso também encarar casos menos bem sucedidos, em vez de recorrer à já bem gasta solução radical: cortar subitamente o diálogo com os jornalistas.
Como já percebemos, Alexis Tsipras é um homem vivo na palavra e pronto a afrontar os poderes dominantes. Na campanha preocupou-se em falar para o país e em conquistar o seu lugar na arena mediática internacional. Como governante, vai perceber rapidamente que tem de gerir bem a palavra pública. Para isso, não precisa de se projetar sempre para a frente das câmaras e dos microfones. Em certas ocasiões, será mais conveniente incumbir os seus ministros dessa tarefa ou, melhor ainda, contratar porta-vozes para esse trabalho. Talvez essa terceira via seja, na verdade, a mais avisada.