Draghi, de saída do Governo italiano, mais do que qualquer um dos nossos pobres ministros das Finanças, foi, na verdade, quem nos salvou de grandes sarilhos e infelicidades com a política de compras, do BCE, de dívida pública nacional.
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Depois dedicou-se à política doméstica enquanto nós, por cá, continuávamos naquela orla de falso dourado até que sobreveio a pandemia. A sra. Lagarde, que o substituiu, persistiu nas ditas compras, mas o programa começou a ter os dias contados. Coetânea com a pandemia, que a OMS ainda não declarou extinta, apareceu no início do ano corrente a nossa velha conhecida inflação. Lagarde, bem como praticamente todo o sistema financeiro internacional, desvalorizou.
Por outro lado, as cadeias de distribuição do comércio internacional "empancaram", algumas, literalmente em alto mar. Iam, e vão, navios cheios de fantasmas, como intuiu, certeiro, Céline. Entretanto, em Fevereiro começou a guerra na Ucrânia. A inflação, que tinha sido desconsiderada, aumentou. O centro da Europa, habituado a importar gás da Rússia, e a Inglaterra, sobretudo, os mais aguerridos neste conflito - ao lado da Ucrânia e em matéria de sanções impostas à Federação Russa -, começaram a sofrer o efeito boomerang das represálias económicas contra Putin.
A União Europeia, que já vinha amplamente atordoada e nula de trás no seu "extremo-centrismo", independentemente das cores partidárias dos respectivos governos "liberais", juntou-se toda nesta espécie de procissão de leprosos, conduzida, a partir do outro lado do Atlântico, por uma não menos atordoada Administração Biden.
Aliás, na ONU, Biden desfiou um conjunto de malfeitorias da Rússia que se julgaria estar ele a contar a própria história "diplomática" dos EUA nos últimos sessenta anos. Ora "esta lepra que nos mata" - a expressão é de 1943 e pertence à filósofa Simone Weil - como que "atacou" as democracias liberais ocidentais gerando, como referi, citando Manuel Maria Carrilho em "O que aí vem", esta imensa procissão de leprosos que carregam às costas o fardo da mediocridade das suas elites políticas e o seu próprio, agora famosamente inflacionado, quer no sentido económico do termo, quer pelas circunstâncias ocorrentes aceleradas, todas, no pior sentido em 2022. Carrilho lança na quarta-feira o seu segundo livro daquilo a que quero chamar "a tetralogia virtuosa", "A democracia no seu momento apocalíptico", precisamente sobre isto tudo. O "prólogo" será o "Pensar o que lá vem", de Janeiro de 2021.
A "primeira jornada, o "Sem retorno", de Setembro do mesmo ano. A "segunda jornada", este. E uma "terceira jornada" que se chamará, provavelmente, "Impensar". É tão raro pensar-se por cá o que interessa que continuo com Carrilho para a semana.
*Jurista
(O autor escreve segundo a antiga ortografia)