Os dias incertos que vivemos aconselham a que nos preparemos para o inesperado e que nos habituemos ao imprevisível. Ainda assim, se o Mundo não enlouqueceu de vez, Emmanuel Macron será hoje proclamado presidente da República Francesa, o mais jovem dos seus eleitos. Aos 39 anos, carreira firmada na banca, este filho do sistema, ou do que sobra dele, é portador de um discurso otimista sobre o seu país e a Europa. E promete acertar o passo a uma França consumida pela crise e pelo pessimismo.
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Apesar de todas nódoas e desconfianças que queiramos imputar a Macron, a França que ele defende é moderna, reformista, aberta, multilateral. Berlim, que convoca as suas próprias eleições em setembro próximo, encontrará em Paris o melhor aliado para reforçar a Zona Euro, com uma estrutura política e de defesa próprias.
Com os resultados de hoje, não convém esgotar o foguetório. A mais que provável vitória de Macron aponta para que ele assuma a plenitude dos seus poderes no Eliseu. Mas será ainda uma vitória sem projeção concreta na Assembleia Nacional cessante. É que as eleições legislativas são só em 11 de junho, e é no futuro quadro parlamentar que o presidente eleito terá de procurar as condições para governar com o apoio de uma maioria.
Por agora, é desolador que num contexto político tão crítico como o que vivemos na Europa, quando direitos e liberdades fundamentais estão em causa, a maioria dos militantes do movimento "França Insubmissa" (de Mélenchon), que se define de esquerda, tenham anunciado abster-se ou votar em branco nesta segunda volta das presidenciais, recusando escolher Macron no combate contra Le Pen. É legítimo discordar. Mas o que está em jogo é travar o passo ao nacionalismo xenófobo, anti-imigrantes e antieuropeísta que a líder da Frente Nacional representa. Promover a abstenção ou o voto em branco foi de uma grave irresponsabilidade política, que põe em risco a democracia - em França e em todo o continente.
A eleição de Macron é de capital importância para toda a Europa. A França é a quinta potência económica mundial e a segunda da Zona Euro. Além de que o Brexit aumentará o seu peso no seio da União Europeia, onde passará a ser a primeira potência militar dos 27 e a única com gatilho nuclear. A União Europeia é imaginável sem o Reino Unido, mas inviável sem a França. É, apesar de todas as imperfeições, tudo o que temos para interpor entre os nossos valores e o caos, porventura o regresso aos nacionalismos e à guerra, que resultaria do cenário de colapso que recusamos admitir.
* DIRETOR