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Fazendo as contas de uma forma simplista, ou seja, a de quem tem de contar todos os tostões para que salário ou pensão chegue até ao fim do mês, as últimas medidas do Governo serão sempre boas. Depois de os funcionários públicos terem conseguido um pequeno acréscimo na remuneração; de aos mais pobres ter sido prometido um subsídio trimestral para despesas essenciais; e às famílias uma ajuda para pagar a renda ou para acomodar parcialmente a subida dos juros do crédito à habitação; chega o IVA zero num cabaz de produtos alimentares; e, cereja no topo do bolo, um novo aumento de pensões, já a partir de julho. Não é um mero bodo aos pobres, são medidas que também chegam à classe média. Excelente. Assunto arrumado? Para o batalhão que gere a comunicação do Governo e do PS esta é a conta que interessa. Mas, se se quiser ser mais verdadeiro, é preciso ser um pouco mais exigente.
E não há melhor exemplo do que o das pensões, para, depois do elogio simplista, aplicar um pouco mais de rigor. Recordem-se as contas apresentadas pelo Governo, há escassos sete meses, para justificar o que constituía, de facto, um corte nas pensões: fazer a atualização que a lei impunha conduziria a Segurança Social para o défice (mais despesas do que receitas) já no final desta década, pondo em causa a sua sustentabilidade. Sucede que, entretanto, e de novo segundo as contas do Governo, se deu uma espécie de milagre da multiplicação dos pães: não só é possível fazer a atualização que a lei impõe, como a sustentabilidade da Segurança Social é reforçada, adiando para 2033 os primeiros saldos negativos. Não é preciso duvidar das contas, é bem sabido que é possível torturar os números para que eles nos apresentem as previsões que dão mais jeito a cada momento. Sucede que uma democracia saudável exige menos tortura e mais transparência. Dá menos votos, mas garante melhor futuro. As contas certas que verdadeiramente interessam.
*Diretor-adjunto