Rui Rio situou o PSD onde ele se situa no eleitorado. O problema não são as sondagens (a rondar os 24%). O problema é ser essa a realidade eleitoral do PSD.
As contas de Rio são simples. Que ele usa para dizer que não tem culpa, ou responsabilidade, para não se parecer aqui tão judaico-cristão: 36% da PàF nas últimas legislativas, a que se retiram os 11% do CDS, se se tiver em conta a votação quando concorreu sozinho em 2011. Dá ao PSD 25%, mais coisa menos coisa. Não são sondagens. São votos.
A primeira tragédia do PSD não é o CDS aproximar-se do PSD. É o PSD aproximar-se do CDS. A descer, portanto. Não é o que se escreve aqui. É o que os militantes sussurram.
A segunda é um partido fragmentado, que o Conselho Nacional não atenuou, só acentuou, com um recuo aparente e nebuloso dos opositores de Rui Rio. Vão andar por aí. E vão ser mais a espreitar a oportunidade do poder, que o líder cederá na medida da sua incapacidade em tirar lições destes últimos dias ou da sua falta de magnanimidade em agregar, unir, juntar, mobilizar um partido sedento de poder.
Mas agora que temporária e aparentemente estão ocultas as guerras de poder, o maior desafio do PSD é mostrar que consegue melhor do que mobilizar energias para arrumar a casa. Ao eleitorado interessa pouco se houve gigantes a acordar, como disse Luís Montenegro, ou se a liderança redobrou energias. Interessa perceber com que ideias e projetos vai apresentar-se em campanha.
Em entrevista publicada há uma semana na NM, Rui Rio afirmou que pretende crescer chegando a abstencionistas ao centro, que se afastaram deste PS alinhado à Esquerda. A questão é precisamente que o PSD comece a falar para eles, num partido que, como disse Miguel Relvas, está mais ruralizado, sem no entanto sequer prestar atenção ao seu património eleitoral, e a quem faltam ideias mobilizadoras para o país.
E essa pode ser, como a primeira, a última tragédia do PSD, redundando num pequeno partido dos 20%, com uma Direita dividida em pequenos poderes e projetos individuais. Será também a tragédia do país.
*Diretor
