A nova pasta de Transição Digital, criada por António Costa, e incluída no Ministério da Economia, gera expectativa. É certo que a transformação digital não é uma novidade para as empresas, mas também é claro que muitas organizações terão de acompanhar o ritmo do desenvolvimento da inteligência artificial, do 5G, da Internet das coisas, do big data, da automação, das redes inteligentes, etc. Este é provavelmente o argumento que sustenta a nova pasta entregue ao ministro Pedro Siza Vieira.
Corpo do artigo
Mas esta transição digital não pode entrincheirar-se na economia, sob pena de continuarmos a ter um país que se diz moderno, mas ainda demasiado ténue na inovação. Não adianta ter uma Web Summit, se os cidadãos continuam em filas para renovar o cartão de cidadão. Não basta ter uma plataforma de e-Saúde, se nos centros de saúde não atendem as chamadas telefónicas dos utentes. Não chega que as escolas tenham salas do futuro, se depois problemas informáticos atrasam a entrega de manuais escolares. E os exemplos podiam continuar.
Fica sempre muito bem usar em conferências e palestras expressões como "a Internet é o futuro" ou "o futuro é online", mas os clichés causaram-me sempre alguma irritação. Não pela sua legitimidade, mas pelo seu anacronismo. A Internet há muito tempo que já é presente e a realidade offline cada vez mais passado. Vivemos numa era de transição digital? Sim, mas também há bastante tempo. Da atividade económica até às relações sociais, passando pelos setores da saúde, educação, segurança, o mundo físico foi passando para o digital. Sem exceção. Até o Vaticano acaba de lançar a sua aplicação clique para rezar, o e-Rosário.
E o inevitável caminho para o digital tem forçosamente de passar por uma educação para os social media e pelo combate à infoexclusão dos mais idosos. Mas, com tantos ministérios (Economia, Modernização, Ciência e Ensino Superior, Educação e das Infraestruturas) envolvidos nesta prioridade definida por António Costa, não se espera outra coisa. A ver vamos. É que pouco interessa o quão "simplex" é pôr uma vaca a voar, se continuamos a não saber como a tratar quando está em terra.
*Diretor-adjunto