Em nome da transparência, estão disponíveis online dados sobre os 19 514 projetos que já estão a ser financiados pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). É possível ordenar os investimentos por montante ou pesquisar por eixo temático mas, ao contrário do que acontece com o Portugal 2020, não estão disponíveis indicadores de investimento por regiões.
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É sempre possível argumentar que a ambição do PRR é contribuir para reformas estruturais e transversais, numa lógica que ultrapassa o formato habitual dos quadros comunitários. Ainda assim, é difícil ignorar a natural complementaridade que deverá haver entre os vários níveis de investimento, ou considerar irrelevante qualquer leitura territorial da aplicação dos tão propalados milhões da "bazuca". Por agora, o exemplo da Cultura é preocupante: só o Teatro São Carlos concentra tantas verbas como as previstas para a região Norte.
Todos ouvimos repetir até à exaustão que esta será uma oportunidade única para o país. Já o era antes da guerra de Putin, mas o contexto internacional agravou os riscos e a urgência de um crescimento sustentado e capaz de promover maior coesão. Essa urgência justifica as novidades no programa do Governo, bem como as críticas da Oposição à falta de ousadia nas medidas extraordinárias introduzidas à luz do momento que vivemos.
É ainda cedo para perceber alguns sinais contraditórios do Governo em relação à sua visão para o território e para o dossiê concreto da regionalização, com que António Costa se comprometeu a avançar rumo a um referendo em 2024. A tutela partilhada da gestão de verbas europeias, entre as ministras Mariana Vieira da Silva e Ana Abrunhosa, não parece um bom prenúncio. Mas serão os próximos meses a demonstrar que capacidade e vontade mostra o Governo e que estratégia para um país assimétrico.
O discurso das regiões e da coesão não é uma guerra de quintas. É um imperativo, num país que cresce abaixo da média europeia e compara mal em muitos indicadores de desenvolvimento integrado. O país não conseguirá crescer, nem usar bem os fundos, sem promover mais coesão social e territorial. Os que dizem que não é preciso pensar em regiões alegam que somos pequenos em território. O que não podemos é ser pequenos a pensar sobre ele.
*Diretora