O Maccabi Telaviv derrotou por estes dias o Real Madrid e levou para Israel o desejado troféu pela conquista da competitiva euroliga de basquetebol. Até aqui, tudo normal, não fosse ter-se dado o caso de, logo após o final do jogo, as redes sociais em Espanha terem sido inundadas de mensagens racistas e antissemitas.
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Foram manifestados desejos de envio da equipa do Estado judaico para a câmara de gás e alguns adeptos do Real até confessaram "compreensão" relativamente a Adolf Hitler e às suas políticas de limpeza étnica que levaram ao extermínio de, pelo menos, seis milhões de judeus.
Um Estado de direito como o espanhol não gostou de ver esta impunidade à solta, nomeadamente no Twitter, e apelou de imediato ao poder judicial para que atuasse contra os que, no espaço público, defenderam a violência e incentivaram o ódio. Mesmo que a coberto de um anonimato cobarde. Mas o caso não foi único.
Em Portugal, assistimos, também esta semana, a outra espécie de hooliganismo: o político. Ao referir a necessidade de se combater com uma "vacina" o "vírus socialista", o cabeça de lista do PSD/CDS às eleições europeias colocou-se a jeito para uma resposta à medida. Manuel Alegre acusou Paulo Rangel de "falta de memória histórica", já que, recordou o socialista, "há umas dezenas de anos, na Europa, houve um partido que disse que os judeus eram um vírus que era preciso exterminar". Foi o partido de Adolf Hitler. Alegre não precisava de ter recuado tanto no tempo.
O presidente honorário da Frente Nacional francesa trouxe, igualmente esta semana, outro agente infeccioso para o discurso político, em plena campanha. Le Pen considera que o mortífero vírus ébola poderia ajudar a resolver o problema da imigração "em três semanas". O partido de Le Pen - que arrisca um resultado histórico no sufrágio do próximo domingo - revela que, afinal, nada mudou na sua matriz de extrema-direita.
Nós, como é público e notório, somos um povo de brandos costumes e estamos felizmente muito longe da ameaça de uma direita extremista e xenófoba como a francesa. Rangel evidenciou apenas aquilo que já sabíamos. À falta de uma ideia para a Europa, sobra o populismo discursivo e, quando assim é, o risco de o mau gosto sobressair é elevado. Foi o caso, por muito que tente agora virar o ónus da culpa para Alegre.
A hedionda moda de Hitler evidenciada em vários setores também não poupou o jornalismo. Ainda que involuntariamente, um novo projeto jornalístico online decidiu contribuir para este triste peditório, ao desenterrar o condenado Mário Machado para nos contar, com laivos de alguma ternura, o seu casamento com uma jovem da "linha" apresentada como militante socialista. O "Observador" deu-nos a conhecer o "homem romântico" que cumpre uma pena de dez anos por envolvimento ou autoria de crimes de sequestro, coação ou raciais. Um homem a quem "custa muito festejar [o 25 de] Abril", mas que vive feliz com uma socialista com quotas em dia. Uma militante PS que, segundo nos explicou o DN num excelente trabalho de investigação, afinal até defende publicamente ideais nacional-socialistas. E assim sendo, irá Manuel Alegre propor a expulsão do partido da mulher de Mário Machado?