Esta é a semana em que a maioria dos encarregados de educação ajusta os tempos das suas vidas aos tempos dos estabelecimentos de ensino. As aulas metem-nos numa espécie de roda-viva quotidiana precedida por uma rápida descida aos infernos causada pelos gastos com livros, cadernos, capas, lápis, borrachas, mochilas da moda, micas......
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O (tremendo) esforço feito pelas famílias (em média, cada uma gasta para cima de 500 euros com o regresso às aulas) valerá tanto quanto melhor forem as condições proporcionadas pelas escolas e, claro, os resultados obtidos pelos estudantes.
Conto-me entre os que, reconhecendo embora a existência de uma relação entre as duas variáveis (melhores escolas, melhores alunos), não se apressam a usar a escola como bode expiatório sempre que o insucesso contraria as expectativas dos pais que veem nos filhos potenciais génios. A responsabilização do aluno - e de quem o acompanha no seu entorno social - é parte central de uma equação delicada e decisiva. Decisiva para o estudante e para o país, na medida em que, aqui sim, é impossível pensar num futuro risonho sem mulheres e homens mais qualificados que possam devolver ao seu país, sob a forma de conhecimento, uma parte do investimento que neles foi feito.
Problema: quando se coloca a lupa na casa de partida (o Ensino Primário), salta à vista que o percurso começa torto. Exemplo: há turmas com um número de alunos absolutamente insustentável. Por muita dedicação e paciência que o docente possa ter, é possível dar aulas com eficácia a um conjunto de 28 crianças com 5 ou 6 anos que acabam de entrar num mundo que lhes é totalmente estranho? Não é. Ficarão para trás os menos esclarecidos, os que não poderão contar com mais ninguém porque mais ninguém tem disponibilidade para os acompanhar, os que, enfim, estão entregues a si próprios. A espiral que nasce a partir deste enviesamento é terrível.
A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) defende que, no Ensino Primário, as turmas não devem ter mais de 21 alunos. O ministro da Educação já disse que, fruto da contenção, a dimensão média passaria de 21 para 22. A realidade desmente-o. Mais uma vez. Em 6 anos fecharam 4 mil escolas em Portugal. A contínua litoralização do país pressiona os estabelecimentos de ensino dos grandes centros urbanos. A "reforma" do Estado empurra dezenas de milhares de professores contratados para o desemprego.
Conhecemos as causas destas coisas. Convém que conheçamos as consequências. Na Região de Lisboa e Vale do Tejo, já há mais de 26 alunos em 10% das turmas. No Norte, são 5%. No Centro, 1%. É óbvio: as percentagens aumentarão rapidamente, porque o sistema já colapsou e não se vê modo de o trazer para a normalidade. Vale o mesmo dizer: a turma dos 28 que eu conheço será, nos próximos anos, a turma dos 30, ou dos 31, ou dos 32... Uma loucura!