Os média internacionais preveem uma abstenção inédita nestas eleições europeias, mas ironicamente nunca terá sido tão importante votar como agora. A União Europeia corre um sério risco de naufragar e os líderes europeus parecem não ter força suficiente para a resgatar, ao contrário de uma frente populista que ganha cada vez mais visibilidade e vigor. E isso deveria suscitar uma enorme inquietação.
Corpo do artigo
São vários os países onde os populistas governam: Itália, Áustria, Estónia, Polónia, Hungria, República Checa, Roménia... Noutras geografias vão ganhando cada vez mais espaço: França, Reino Unido, Dinamarca, Finlândia, Suécia... Em contrapartida, as conhecidas lideranças europeias enfraquecem. Merkel está em curva descendente e Macron mostra-se incapaz de fazer vingar o sonho de uma Europa coesa. Costa é a exceção de uma Esquerda em crise em território europeu. Seguindo os líderes de uma Europa fragilizada, reparamos que todos tendem a construir um discurso centrado em questões de política interna, talvez porque sentem que o Velho Continente deixou de galvanizar o eleitorado.
No entanto, os média internacionais vão elencando temas que deveriam merecer reflexão. Esta semana, o "L"Express" apresenta quatro desafios que estão na ordem do dia: o funcionamento das instituições europeias (que muitos não veem como democrático), as políticas ambientais (que não passam de boas intenções, muitas vezes impossíveis de concretizar), a competitividade económica (que encontra nos EUA e na China concorrentes insuperáveis) e a livre circulação das pessoas. Este último tópico está em destaque na edição do "Courrier International" que nos lembra que, em chão europeu, há mais de 20 milhões de cidadãos da UE que não vivem no seu país natal, sendo a política de circulação das pessoas um dos maiores sucessos de uma União Europeia que agora contesta cada vez mais a imigração. A estas questões, poder-se-iam acrescentar muitas outras: o neoliberalismo que Bruxelas tanto aprecia, o risco de perda das identidades nacionais, o peso da Comissão Europeia, o domínio do eixo franco-alemão, a influência dos lóbis, a força das políticas financeiras do Ecofin...
Neste contexto, percebemos facilmente que o centro do debate político destes últimos dias passou ao lado do essencial. No domingo, vamos ver quem serão os vencedores e perdedores destas eleições. E, dentro de portas, começaremos imediatamente a falar de eleições legislativas. A UE pode esperar, embora as respetivas decisões comandem grande parte das nossas vidas.
*Prof. Associada com Agregação da UMinho