A última oportunidade para Portugal
Consulta pública fechada, aproxima-se o momento de "abrir" o Plano de Recuperação e Resiliência e começar a injetar dinheiro na economia. Há opções discutíveis e outras que julgo erradas. O caminho do Governo está traçado. O importante, agora, é não perder tempo.
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Pode até não ser a última, mas é de certeza a nossa maior oportunidade para reformar o Estado e modernizar o país de uma vez por todas. São 14 mil milhões a fundo perdido para executar em menos de cinco anos. Nunca houve tantas verbas disponíveis em tão pouco tempo. Ao ponto de se colocar legitimamente em questão se teremos capacidade de cumprir orçamento e prazo.
Começo por ser crítico. Da já várias vezes apontada discrepância entre a imensidão do investimento no setor público e da escassez correspondente às empresas privadas. São quase três quartos para o Estado (com 15 por cento do emprego), contra um quarto para a economia real (cerca de 80 por cento da população trabalhadora). O resultado será um Estado mais caro, o que não quer dizer um melhor Estado.
Impressionante, embora menos discutido, é também o montante de 1,6 mil milhões destinado à habitação, admitindo o Governo financiar até 26 mil novas casas públicas. Ora, com quatro milhões de alojamentos, muitos deles devolutos, não me parece que a falta de habitação seja uma prioridade nacional. Há muitas áreas sociais bem mais necessitadas de investimento, como o combate à pobreza ou os cuidados paliativos, antes de se criarem 26 mil novos inquilinos do Estado.
A distribuição setorial da "bazuca" parece atender mais a interesses políticos do que a desígnios estratégicos. Não se descortina uma visão nítida de futuro para o país. Imaginam-se comissões de acompanhamento - que ninguém se lembre outra vez do "comissário" Francisco Ramos -, e amplos debates quanto à transparência de procedimentos e aos atrasos nas obras. No fim, contas feitas, espera-se ardentemente que não estejamos na mesma. Estar na mesma será estar bem pior (com mais despesa e mais dívida). Com a agravante de que não haverá outra oportunidade.
Empresário e presidente da Associação Comercial do Porto