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A magna questão das alterações climáticas e respectivas consequências para a nossa vida - a nossa, a dos nossos filhos e a dos nossos netos - é um daqueles temas para os quais o cidadão comum olha com reiterada indiferença. Melhor: impressiona-se quando vê na televisão pungentes imagens provocadas pelo degelo, ou pela desflorestação, ou pelo uso intensivo de combustíveis fósseis reclamado pela industrialização, ou pelo aumento global da temperatura... Mas, a seguir, segue o rumo da sua vida, indiferente às causas e às consequências do fenómeno que ontem começou a ser debatido na Cimeira de Copenhaga. Não espanta: a vida dele, do cidadão comum, está pejada de outras preocupações mais "terrenas": a luta por conseguir esticar o orçamento até ao final do mês, por exemplo. De modo que a tendência é a de olhar para o tema das alterações climáticas como se fosse um problema, sim, mas que afectará primeiro os "outros".
De quem é a culpa? Do cidadão comum, com toda a certeza. Mas também - e talvez sobretudo - dos líderes políticos que olham para a resolução de um dos mais sérios desafios que se colocam à Humanidade seguindo a "estratégia da quintinha". Resultado: os múltiplos encontros aos mais alto nível em que o tema foi debatido iniciam-se com enormes e pomposas declarações de boa vontade, mas terminam , invariavelmente, com respostas pífias e inconsequentes. Não pode dizer-se que esse seja o melhor sinal que os "senhores do Mundo" possam passar para o cidadão comum.
Será diferente em Copenhaga? Feliz metáfora de um dos negociadores: chegámos a um ponto em que "podemos ir a prolongamento, mas não nos podemos dar ao luxo de uma repetição do jogo". Ou seja: terá que ser diferente em Copenhaga. Estarão os líderes políticos das maiores potências mundiais à altura do desafio? Que tratamento deve ser dados aos países em vias de desenvolvimento e aos países mais pobres? Serão, todos juntos, capazes de combinar os seus (gigantes) interesses, tendo sempre na mira o ameaçado futuro do nosso planeta?
Impulsionados pelas últimas posições, mais equilibradas, dos Estados Unidos da América e da China, há já quem se atreva a pedir que de Copenhaga saiam as bases de um entendimento que conduza, posteriormente, à elaboração de um tratado definidor das condições e regras a seguir, rumo a um futuro menos sombrio. Seria óptimo, porque, afinal, é da nossa sobrevivência que estamos a tratar. E se é da nossa sobrevivência que se trata, há dois desafios que se nos colocam - a alteração do nosso estilo de vida, em muito culpado pelo estado em que o planeta se encontra, e a consciencialização de que estamos a tocar a última oportunidade. Convém aproveitá-la.