Depressão, euforia, depressão. Se o Sporting fosse ao psicólogo, ser-lhe-ia diagnosticado um quadro de bipolaridade. Nada de anormal, tratando-se de um clube que vive, como quase todos em Portugal, do futebol. Quem consegue, sem filtros coloridos, observar os comportamentos e as dinâmicas dos adeptos, sabe que é muito fácil navegar do oito ao 800, e vice-versa, tendo como base única de sustentação vitórias e derrotas.
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O Sporting entrou na época 2019/20 da pior maneira, vergado pelo rival Benfica na Supertaça, foi somando pontos até liderar o campeonato à terceira jornada e rapidamente desceu à terra, derrotado pelo Rio Ave em casa. A reação dos adeptos é, pois, compreensível. Aconteceria em qualquer clube (a saída do treinador, nem tanto, mas já lá vamos).
Só que a agitação, em Alvalade, é distinta. O presidente Frederico Varandas nunca teve o seu "estado de graça" e isso não está relacionado com os resultados. Foi contestado desde o primeiro dia por uma minoria - a avaliar pelo resultado das eleições - ruidosa, que nunca aceitou a saída de Bruno de Carvalho. Sem exorcizar os fantasmas que tem em casa, o Sporting não conseguirá voltar a ser suficientemente forte para acompanhar os mais diretos competidores, estribados em lideranças estáveis, como as de Pinto da Costa, Luís Filipe Vieira ou António Salvador.
Como sair desta encruzilhada? Vencendo, claro. Varandas chamou "fim de ciclo" à saída de Keizer. Todavia, por ter sido demasiado curto, tem de ser visto como uma má escolha desde o primeiro dia. Agora, o líder leonino não pode voltar a falhar. Caso contrário, corre o risco de, efetivamente, deixar de ser parte da solução e tornar-se um problema, por manifesta incapacidade para escolher um caminho sem deixar cair, à primeira tempestade, aqueles que seduziu para o acompanharem. Depois de não ter tido "estado de graça", depressa passará ao de desgraça, porque os adeptos não o vão perdoar.
*Editor-executivo