Em Portugal, não se evidenciam grandes sinais de hesitação vacinal, ao contrário de outros países. Todavia, em pleno verão, com as filas a avolumarem-se e a mobilidade territorial a crescer, as desistências poderão aumentar, particularmente entre os mais novos que tanto necessitam de ser vacinados.
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Como constatámos no ano passado, as rentrées no trabalho e na escola devem ser preparadas no verão. Neste momento, já dispomos de uma frente de batalha fortíssima: as vacinas. Até agora, esse processo tem corrido bem. É certo que os média noticiosos têm destacado aqui e ali algumas disfuncionalidades, quase todas relacionadas com inesperados tempos de espera, mas globalmente estamos a ser capazes de ir administrando um volume de doses cada vez maior e isso faz-nos acreditar que a imunidade de grupo pode estar perto. No entanto, as próximas semanas podem ser perigosas. Muitos de nós vão sair para férias e os mais jovens, sem escola, vão preenchendo a sua agenda com convívios de vária ordem. É preciso, pois, centrar a atenção aí para travar previsíveis desistências.
A par de garantir o fornecimento de doses suficientes e dizer aos portugueses que será necessário esperar mais tempo nas filas, o Governo deve preocupar-se com a comunicação, sobretudo com aquela dirigida aos jovens. E isso exige cuidados acrescidos. Por exemplo, há que deslocar as mensagens dos media tradicionais para as redes sociais. E aí adotar registos adaptados a essas franjas etárias. Por estes dias, parte dos jovens ainda permanecerá nas universidades para os exames e esses lugares poderão também ser portadores de mensagens que os convençam acerca da importância de se vacinarem. Não temos rostos, nem um slogan forte para nos levar até aos locais de vacinação. E deveríamos ter. Vacinar. Por nós e pelos outros. Eis o que é imperioso cada um de nós ter presente.
Vacinados, todos nós temos de saber coisas básicas: mesmo assim, podemos ser portadores do vírus, estar infetados e mesmo apresentar sintomas. Por isso, há que continuar a promover comportamentos de prevenção. E isso será difícil num tempo em que vamos passar muito tempo fora de casa, estamos de férias e as temperaturas convidam a convívios mais alargados.
É verdade que estamos todos esgotados com tantas restrições, com tanta insistência no tema, com tantas mudanças no nosso quotidiano. A vontade de regressar ao verão de 2019 é colossal. Mas (ainda) não é possível. No entanto, hoje estamos mais próximos de uma vida mais normal. A menos que se deite tudo a perder.
* Professora associada com agregação da UMinho