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Na minha crónica de há duas semanas ("O tempo do presidente") descrevi o que tinha ouvido da boca do presidente num congresso em Aveiro sobre fundos comunitários. Descrevi o que ouvi e interpretei o apelo ao consenso e à concertação no plano mais abrangente da chave de governação partidária que julgo ser defendida por Marcelo Rebelo de Sousa.
O presidente veio, entretanto, dizê-lo com todas as letras: "Uma utopiazinha pequenina era, na altura em que eu tomei posse [como presidente da República], eu dizer que era possível distender a sociedade portuguesa e pôr a falar a Direita com a Esquerda, as várias direitas entre si, as várias esquerdas entre si e as várias esquerdas com as várias direitas".
Claro que isto já é um bocado mais do que o bloco central propriamente dito. A bem dizer nem percebo bem o que é. Mas, mesmo que no fundo seja apenas a "utopiazinha" do bloco central, então, volto a dizer, não será possível esperar por outubro de 2017.
O PS, a continuar neste vaivém de medidas à Esquerda mas nem tanto, espanta o eleitorado PS à Esquerda e à Direita. Uns porque acham que António Costa não cumpre o que promete e outros porque acham que um dia lá terá mesmo de cumprir.
O CDS, por seu lado, perdeu o lanço para uma aliança com o PS e mantém o complexo de ter sido o mais pequeno da coligação anterior. Teima em distanciar-se do PSD e não se percebe.
Se a economia continuar a crescer "bem menos" do que António Costa esperava, então a austeridade aí estará e já não resistirá ao disfarce dos impostos indiretos. Sem medidas para aumentar o rendimento disponível das famílias e sem dinheiro para melhorar os serviços públicos, os partidos da Esquerda radical, a manterem a coligação, serão prejudicados nas urnas.
A "utopiazinha" terá de fazer o sortilégio de os libertar das amarras da geringonça assim que o PSD tenha condições de se entender com o PS. E o PS só se entenderá com o PSD se for ele próprio a romper a "coligação".
Pedro Passos Coelho não tem ajudado e insiste que quer ver Portugal a pegar fogo. Só para que António Costa seja o bombeiro.
Talvez a "utopiazinha" do presidente da República passe pela candidatura de Pedro Passos Coelho à Câmara de Lisboa. Se for assim, a coisa resolve-se mais cedo.
Pelo sim, pelo não, os ministros de António Costa podiam ir fazendo algum trabalho de casa.
ANALISTA FINANCEIRA