Passos Coelho vai à frente nas sondagens do PSD. Vem fazendo o seu caminho há um par de anos, trabalhando, preparando-se, indiferente aos que o menorizavam, e conseguindo sempre arregimentar mais gente para o seu lado. Dizem os seus detractores internos, sobretudo os afectos a Paulo Rangel, que Passos é o melhor candidato para o PS, o candidato com que Sócrates terá mais facilidade em conviver. É uma forma estranha esta de fazer política, desacreditando o adversário, acusando-o de ser débil mas não o conseguindo vencer.
Corpo do artigo
A verdade é que Passos Coelho optou por um discurso que desagrada a muitos barões do partido. Ele não venera Cavaco: ainda ontem, no "Expresso", o título de uma entrevista era "nem afronto nem sirvo Cavaco". No fundo, Passos Coelho verbaliza o que muitos sociais-democratas pensam mas nem todos dizem por temor reverencial ao actual chefe de Estado. A posição de Passos não é a de quem "mata o pai", apenas a de quem sabe que terá de fazer o seu caminho, independente do de Cavaco Silva, pelos seus méritos, sem colagens ao presidente, colagens que em tempo bem recente deram maus resultados ao PSD.
Passos Coelho também tem uma opinião própria sobre as autonomias regionais e sobre o histórico Alberto João Jardim. Passos pensa sobre Jardim certamente o mesmo que a maioria dos militantes e dirigentes do PSD. A diferença é que ainda ninguém o viu no beija-mão ao "dono" de uns milhares de votos. Para Alberto João, Passos deve ser um cubano igual a tantos outros que aqui no continente teimam em não aceitar como bom tudo o que interessa à Madeira. E Passos Coelho até ousa discordar em público de Alberto João
Passos Coelho também não tem pressa em derrubar o Governo. Já disse em que condições o faria, mas ainda ninguém o ouviu vociferar porque ele sabe ser tudo uma questão de tempo. Se o partido funcionar como não tem funcionado, se o partido tiver as alternativas e as propostas que ao longo de vários anos não foi capaz de apresentar, Passos Coelho sabe que a alternância democrática funcionará naturalmente e a hora do PSD chegará.
O Congresso deste fim-de-semana e os poucos dias que ainda faltam para as directas podem provocar alianças que se revelem fatais para a candidatura de Passos. Mas as sondagens colocam-no na frente precisamente porque ele é o único que tem mostrado um novo caminho. O facto é que o partido está dividido entre os que querem (re)começar por esse caminho e os que se querem agarrar ao passado de baronatos. Passos Coelho pode perder, mas é evidente para quem está de fora que o que está em causa no PSD é a renovação de quadros e de processos. E, como todos sabemos, não há renovação se os actores forem os mesmos.