<p>Não posso escrever aqui o pensamento que me veio à cabeça quando acabei de ver o documentário, «Inside Job - A verdade da crise», realizado por Charles Ferguson. Corria o risco de, num Estado de Direito, como o nosso provavelmente ainda o é, ser indigitado pelo crime de incitamento a práticas de terrorismo.</p>
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«Inside Job» obviamente é controverso. Por isso merece o silêncio ou o contraditório daqueles que acusa. Mas, com todos os possíveis atropelos da perspectiva em que analisa a «verdade da crise» financeira e económica em que estamos, deve constituir um libelo condenatório para co-autores (feitores, no sentido ancestral do termo) desta crise.
««Inside Job» deixa claro como os «donos do dinheiro», gestores e economistas deste sector tomaram conta da política e do poder do Mundo. Nesta «nova/velha ordem» políticos e juristas tornaram-se títeres nas mãos dos «donos do dinheiro» na congeminação dos decretos que legalizam ou ilegalizam os mecanismos da máquina geradora dos fabulosos negócios, porventura montados à base daqueles que vivem «acima das suas posses» é certo, mas sem consciência do preço futuro.
«Inside Job» descreve o que se passou nos EUA. O que chegou cá vem de lá, mas estava cá. Aqui, com as fortes incidências de um país que tem menor dimensão espacial que as nove ilhas dos Açores, dispersas no Atlântico.
«Inside Job» causa-me estado de depressão ao ver o ar irónico e desconcertante com que grandes «craques», em Economia e Gestão, das universidades de primeira grandeza dos EUA, comprometidos com o envolvimento nas decisões ou conselheiros destas, se recusam a dar respostas ou se riem com hipócrita descomprometimento. Lá como cá.
Cá, para responder às perguntas que Cavaco Silva tem repetido na campanha - «Por que é que chegámos à situação em que nos encontramos? Por que não foram tomadas as medidas certas no tempo certo?» - leva-nos a constituir um tribunal (estilo de Haia) para os autores e actores destes 36 anos de democracia. As eleições sucessivas politicamente vão julgando os autores. Mas não cobram os prejuízos. A situação de Portugal precisa de um julgamento histórico.
Não advogo para mim a ideia do presidente e candidato Cavaco Silva que alguém para ser mais honesto do que eu terá de morrer e nascer duas vezes. Pela simples razão que isso sugeriria uma aceitação da teoria da reencarnação e, em contexto diferente, nada provaria. Como cidadão deste desolado país não alijo as minhas responsabilidades. Mas gostaria que outros não as alijassem. Principalmente, em tempo de eleições.