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O "dieselgate" tem merecido grande atenção dos meios de Comunicação Social. A Volkswagen, o maior construtor automóvel mundial, usou um software que reportou níveis de poluição dos motores a diesel inferiores aos reais. Os proprietários dos veículos, mais de 11 milhões em todo o Mundo (94 mil em Portugal), têm andado a poluir o ar para além dos limites legais estabelecidos. A cotação das ações da empresa caiu de forma significativa contagiando outras empresas do setor automóvel. Mais grave que a queda das ações é a queda da confiança dos consumidores em marcas que durante muito tempo foram referências no seu mercado. O dano reputacional afeta também a imagem de rigor e exigência da própria Alemanha. Made in Germany deixou de ser o que era.
Infelizmente este não é um caso isolado. Nos últimos anos, e basta recuar ao início do novo milénio, fomos chocados com escândalos semelhantes. A Enron, a Parmalat, a Worldcom, etc, são exemplos de fraude contabilística. Faliram por causa disso. Causaram uma crise bolsista que infligiu perdas significativas mesmo a quem investiu noutras empresas cumpridoras das regras vigentes. Mais recentemente temos sido surpreendidos por escândalos no mundo financeiro. A crise que nos afeta desde 2007 revelou fragilidades de muitas instituições bancárias a quem confiamos as nossas poupanças. Práticas agressivas de comercialização de produtos financeiros, nem sempre bem explicados aos clientes, expuseram milhares e milhares de cidadãos a riscos que não imaginavam. Vários bancos assumiram riscos elevados e, quando confrontados com sinistros, camuflaram a sua situação e esconderam prejuízos. Tornou-se evidente que nem a regulação destas atividades é perfeita nem a sua supervisão é capaz de detetar todos os problemas. A justiça tem-se revelado lenta a sancionar os responsáveis. O desfecho dessas situações é conhecido ou expectável e a confiança é prejudicada.
Mais recentemente soubemos que o Governo "influenciou" as contas da Parvalorem, uma das entidades residuais do BPN, escondendo mais de 150 milhões de perdas potenciais. Esta ingerência política na contabilidade pública compromete a credibilidade do país e a confiança das entidades estatísticas europeias e dos mercados nos números reportados pelas autoridades portuguesas.
Em todos os casos quis-se esconder e enganar. Mas, como diz o ditado, a verdade é como o azeite, vem sempre ao de cima. Ao abalar-se a confiança dos cidadãos promove-se um ambiente de descrença nos padrões éticos dos decisores de topo das nossas organizações. Mais que financeiro e/ou jurídico, estamos perante um desafio que tem a ver com a ética no mundo dos negócios e da política.
*ECONOMISTA