A vertigem do PS perante o abismo
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Muito se tem falado de António Costa. Contrastando com a serenidade do primeiro-ministro, a hiperatividade política, o desdobramento em reuniões, cimeiras e a profusão de declarações, entrevistas e posições do líder socialista dominam o comentário político e contribuem para agravar a preocupação dos cidadãos com a situação do país.
António Costa e o seu caráter têm vindo a merecer variadíssima e categórica adjetivação e, como se sabe, na maior parte dos casos em sentido negativo ou muito negativo. Abstenho-me de ir pelo lado pessoal do problema. Parece-me que o comportamento errático e pouco fiável do secretário-geral do PS é tão esclarecedor que as pessoas, tenham ou não votado nele, são capazes de tirar as devidas ilações. O desespero que aparenta quanto à incerteza da sua carreira futura assemelha-se ao de um treinador de futebol que, após ter falhado os objetivos de uma época em que tudo teria para triunfar, teme a fúria dos adeptos, angustia-se com a revolta dos subordinados e sofre na iminência do dia em vai receber uma carta de despedimento. O Mundo, política incluída, é muito competitivo e não tem contemplações para com excessos de apego ao poder.
Preocupa-me mais o impacto da conduta de António Costa no equilíbrio do sistema partidário português. A questão é que o PS, encostando-se aos movimentos radicais e utópicos de extrema-esquerda, se afasta vertiginosamente da matriz da sua família política europeia. O risco é o de ficar sem história. E, sem história, fica sozinho, frágil e irresponsável.
Não sabemos ainda o que vai suceder e que Governo vai ter Portugal nos próximos meses. Seja pela não obstrução a uma solução PSD-CDS - à qual terá, inquestionavelmente, que fazer oposição -, seja porque aceita aliar-se ao Bloco e ao PC numa maioria contranatura, negativa e assustadora, o PS, pelo percurso que está a trilhar, pode continuar a aproximar-se do que é um partido antissistema. Muito à semelhança do que, com o seu novo líder, se está a tornar o Partido Trabalhista inglês. E, nesse lado do campo, Catarina Martins e mesmo Jerónimo de Sousa serão sempre vozes muito mais eficazes do que Costa. Enquadram o protesto, corporizam o descontentamento, mas não são alternativas reais de Governo. Coisa que o Partido Socialista, até há 15 dias, era suposto ser.
Acredito na democracia e no Estado de direito. Valorizo o princípio da alternância. Receio que o PS deixe de ser parte da estabilidade do sistema político português. Mesmo quando, em busca de melhores resultados, o "clube" decida mudar de treinador.
O PS, encostando-se aos movimentos radicais e utópicos de extrema-esquerda, afasta-se vertiginosamente da matriz da sua família política europeia. O risco é o de ficar sem história. E, sem história, fica sozinho, frágil e irresponsável