A semana que passou foi a primeira semana de campanha para as legislativas de 5 de Junho próximo. Teve o seu início com o congresso socialista que deu o mote ao discurso político eleitoral de José Sócrates. O discurso assenta em três premissas simples. A primeira aceita que o país está malzote apesar do grande timoneiro que é o primeiro-ministro. Mas acrescenta logo de seguida, sem hesitações, que, se não fora ele e a política eficaz do seu governo, já a crise financeira americana, mais a falta de rumo da União Europeia, a irresponsabilidade da oposição e o imobilismo do presidente da República teriam alienado a independência nacional.
Corpo do artigo
Ou seja, o país está de rastos mas a culpa é de todos menos da actual maioria e do seu líder incontestado.
A segunda aponta as baterias ao PSD, culpado único da dita "deriva" da oposição. O PSD, reconhecido pelo governo como a única alternativa, seria uma opção perigosa. Segundo o discurso propagandístico dos porta-vozes de serviço, o PSD quereria retirar direitos sociais aos portugueses, defendia uma política perigosa de privatizações, falando até da privatização da sacrossanta Caixa Geral de Depósitos.
O terceiro crime social-democrata decorreria de ser um partido instável, que só no ciclo socratista teve cinco líderes.
Para quem tem tão débeis currículo e resultados para apresentar nem está mal este argumentário. Todavia, é dizimável de forma simples e curta.
A actual maioria governa há seis anos, quatro dos quais com maioria absoluta. A actual maioria governou em quase 14 dos últimos 16 anos, oito dos quais com maioria absoluta. A actual maioria, após este longuíssimo horizonte temporal, conduziu o País aos seus recordes absolutos de desemprego, paralisia do crescimento económico, dívida pública, dívida externa e deficit orçamental. Se acrescentarmos que, segundo os últimos dados disponíveis, Portugal será o país do mundo com pior prestação em 2011, não vale a pena dizer mais nada. Nem a Líbia de Kadafi tem previsão tão negra!
Quanto ao pretenso liberalismo insensível do PSD basta recordar que nunca ninguém anteriormente havia fustigado tanto os portugueses com impostos e com o corte de direitos sociais. Bastará perguntar a opinião insuspeita de uma classe média depauperada e dos milhões de cidadãos a quem este ano foram retirados subsídios de desemprego, abono de família, subsídio de renda de casa e cinco a dez por cento do seu salário. Recordar igualmente quem foi o campeão da privatização de tudo o que era empresa pública suculenta - EDP, GALP, PT, entre outras. Já agora convém também referir que o emagrecimento da Caixa Geral de Depósitos, que manifestamente está envolvida em actividades para-bancárias onde já não devia estar, não é incompatível com o seu estatuto maioritariamente público. Mas que fique pública para defender os pequenos aforradores, as pequenas e médias empresas e não os grandes capitalistas a quem vem emprestando balúrdios para financiar actividades especulativas. Ou será que já foi esquecido o papel da Caixa no financiamento de accionistas privados do BCP?
Quanto à belicosidade interna do PSD, aqui e ali pontualmente excessiva, é preferível ao unanimismo hipócrita e artificial que se vive no ainda maior partido português. As missas unanimistas, como aquela que se presenciou em Matosinhos, são, pela sua artificialidade, um sinal de derrocada eminente. Uma espécie de beija-mão à moda da "brigada do reumático" do final do anterior regime.
Acresce o facto de os ex-líderes do PSD serem todos portadores de mandatos eleitorais próprios ou de actividades privadas independentes. Ao invés, a quase totalidade dos ex-líderes e dirigentes do PS, assumiram cargos de nomeação via partidária. É verdade que assim também se consolidam unidades, mas muito menos saudáveis.
Em 5 de Junho, os portugueses saberão fazer a destrinça. Até hoje nunca foram injustos. Quando afastaram executivos de maioria socialista, mas também quando derrotaram os social-democratas. Nada leva pois a crer que não continuem sensatos e lúcidos.