Lá longe, no calor de 15 de agosto do ano passado, uma perda de bola deixou Sérgio Conceição, o banco do F. C. Porto e os adeptos em brasa. O Famalicão marcou o 2-2, mesmo à beira do fim, mas o VAR corrigiu e os dragões somaram a segunda vitória na Liga.
Anteontem, celebraram o 30.º título, numa vitória escrita com um golo fantástico e quando já não havia unhas para roer, em pleno palco do rival Benfica - festa no banco, no setor azul e branco das bancadas e um pouco por todo o país. Estes episódios da segunda e penúltima jornadas têm, na relva, um protagonista comum: Zaidu.
As convenções do futebolês, tantas vezes como nesta absurdas, atribuíram ao defesa esquerdo do campeão o epíteto de patinho feio. A realidade, porém, é outra, mesmo dando como certo que só quem não visita o Dragão desconhece que se sente uma espécie de desconforto nas bancadas quando a bola chega a Zaidu. O que se passou ao longo do campeonato permite perceber que há muito de bonito no nigeriano, para além das inúmeras vezes contada escalada meteórica dos sintéticos do terceiro escalão às alcatifas mais verdes da Liga dos Campeões.
Se estivermos atentos às imagens, percebemos que enquanto boa parte dos companheiros de profissão de F. C. Porto e Sporting escreviam a página mais negra da temporada em curso, com empurrões, estaladas e insultos após o clássico, Zaidu, com o leão Paulinho, assumia postura inteligente e decente, limitando-se a assistir àquela pouca vergonha ao longe e provando que o "onde vão todos não vai o Zaidu" funciona muito melhor do que a máxima de Ruben Amorim "onde vai um vão todos". Pelo menos, quando se trata de defender o desporto. Adiante na época, em Guimarães, em nova partida escaldante, vê-se um tranquilíssimo Zaidu a dar toques na bola, a meia dúzia de metros de uma calda efervescente, cozinhada por um adepto que invadiu o campo.
Se calhar, faltam-me alguns episódios, mas o que interessa está escrito e ninguém esquecerá. Zaidu erra, como todos, e tem a mira apontada como nenhum outro. Quando assim é, está mais do que justificada a recompensa de ficar eternizado como o homem que decidiu a hora da festa. Foi quando Zaidu quis, no melhor palco e a fechar uma das jogadas mais bonitas da época. Agora, batam-lhe palmas. Zaidu é assim mesmo, até na vingança consegue deixar os adeptos felizes.
