O evento da distribuição dos Oscars deste ano permanece na crista da onda, não pela excelência das nomeações, excepcionalidade dos argumentos, dos realizadores ou das músicas originais, mas pela bofetada de Will Smith a Chris Rock. Nas redes sociais e na comunicação social dissecou-se o acto de violência exibido directamente para o Mundo, as linhas vermelhas para os humoristas, a desculpa para a violência do agressor...
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No entanto, quase em simultâneo, foi noticiado, sem grande relevância, o ataque de um jovem de cerca de 17 anos à sua ex-namorada, da mesma idade, com uma faca, atingindo-a na zona do pescoço. A violência no namoro cresce exponencialmente entre os jovens. Esta fase da vida deveria ser de descoberta do amor, dos afectos, da sexualidade e do conhecimento mútuo! Porém, são sinalizados números assustadores de casos de agressão física ou psicológica, de ciúme patológico, normalmente exercido pelo rapaz sobre a rapariga. Com mais ou menos publicidade, estes ocorrem com grande complacência das mulheres, que entendem aqueles actos como manifestações de amor. Não. Amor não concebe violência. A violência não desagua no sentimento de amor. Tão preocupante quanto esta passividade da mulher perante as agressões por parte do marido, companheiro ou namorado, é a quase indiferença com que estas notícias são recebidas pelo público em geral e o pouco ou nenhum tratamento ou estudo levado a cabo pelos responsáveis políticos e civis. Deve garantir-se uma juventude feliz, livre e responsável. Perceber as causas e buscar soluções são prioridades para qualquer Estado de direito democrático, porque a violência doméstica e no namoro podem matar e seguramente tornam a sociedade menos livre, mais azeda, perdendo-se os afectos e a confiança no outro. É um dever a denúncia destes casos, em prol da nossa saúde cívica e do nosso progresso civilizacional.
No mesmo âmbito da violência, a ocorrência de casos de assédio "moral" e "sexual" e discriminação dados a conhecer por alunas da FDL. O mesmo pudor, o mesmo medo e angústia das vítimas, a ousadia do agressor. São já cerca de 50 as denúncias e cerca de 30 os denunciados. Corajosas as que ousaram expor as humilhações sofridas, no âmbito da sua vida universitária, infligidas por quem sobre elas tinha o poder de atribuir notas, passagens de cadeiras ou chumbos. Não basta criar um gabinete de apoio às vítimas. É fundamental que se levem a cabo inquéritos internos independentes, que não acabem com um mero pedido de desculpas do agressor àquelas. Ao MP impõe-se-lhe intervir urgentemente, se ainda não o fez. Em defesa das vítimas e do próprio prestígio da Universidade, há que apurar rápida e profundamente responsabilidades criminais e fazer cumprir a justiça. Felizmente, as vítimas romperam os seus medos e desconfianças e denunciaram. Infelizmente, é triste constatar que o assédio, a perseguição, a coacção habitam na Casa da aprendizagem, da pesquisa e do saber.
a autora escreve segundo a antiga ortografia
*Ex-diretora do DCIAP