Seis meses bastaram para desfazer a utopia e piorar penosamente a realidade na Grécia. O "não" obteve mais votos, no referendo que perguntava sobre a vontade de celebrar um novo pacote de austeridade com os credores. Mas três dias depois, Alexis Tsipras repudiou o resultado que pediu e conseguiu, subscreveu um acordo pior do que todos os "sim" e continuará surpreendentemente na chefia do Governo, impondo um programa em que diz não acreditar.
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O mínimo que aqui chegados fará sentido perguntar na Grécia, será:
Para que é que serviu tudo isto?
O que sobrou foi um rasto de destruição da situação económica e financeira do país. E o custo de oportunidade da propaganda panfletária de que é feito o Syriza, está todo aí.
Há 6 meses a Grécia negociava um programa cautelar. Hoje tem o mais implacável dos pacotes de austeridade.
Há 6 meses a Grécia tinha previsões de crescimento de 2,5 %. Atualmente vive a recessão.
Há 6 meses a Grécia tinha um excedente primário. Neste momento falta saber se o défice se fixará nos 7% ou 8 %.
Há 6 meses o desemprego descia na Grécia. Desde janeiro que cresce.
Há 6 meses os bancos funcionavam na Grécia. Presentemente há pessoas à porta de bancos encerrados e foi imposto o controlo de capitais, depois de uma fuga de mais de 40 mil milhões de euros da classe média, que previdentemente quis assegurar que as suas poupanças, contadas em euros, não seriam desvalorizadas em dracmas.
Pelo caminho, houve quem visse no Syriza a estratégia certa para Portugal. Pediam-se perdões, restruturações, mais tempo e mais dinheiro. Aos que assim gritaram, exija-se ao menos a lucidez de perceberem a diferença.
Portugal cumpriu o ciclo de ajustamento e financia-se com algumas das melhores taxas de juro da Zona Euro. A Grécia vai no terceiro resgate.
A Grécia vai aumentar a sobretaxa de IRS. Portugal reduziu a sobretaxa de IRS.
A Grécia vai aumentar o IRC. Portugal diminuiu o IRC para investimento.
A Grécia vai efetuar cortes em salários de 800 euros. Portugal está a repor faseadamente os cortes que fez.
A Grécia deixou de cumprir com o FMI, no momento em que Portugal antecipou o pagamento da dívida a esta instituição.
E se na Grécia venceu o "sim", apesar do "não" medido nas urnas, em Portugal, a questão nem sequer se pôs, porque cumprindo, o país foi capaz de decidir por si.
Uma a uma, as referências farol da esquerda europeia capitulam, em cima do lirismo que prometem, mas a realidade não consente.
Os exemplos são muitos. E em Portugal, só não o verá quem não queira.