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"Em Agosto dê-nos tréguas. Não nos dê más notícias. Escreva sobre qualquer coisa simpática. Faça umas sugestões para férias ou, então, fale das maluqueiras de Verão, a tal ""silly season" como lhe costuma chamar". Isto me dizia um amigo, leitor. Decidi fazer-lhe a vontade. Mais ou menos.
Nestas férias, não sei se como consequência da irritação com o calor excessivo, pareceu-me deparar, ainda com mais frequência, com duas das minhas embirrações: as pastilhas elásticas deitadas para o chão e os dejectos caninos. E já não falo noutra forma de incivilidade - as pontas de cigarro - afinal apenas mais uma forma de deitar lixo para o chão ou para a areia. Não sou a favor de alternativas proibicionistas, embora ache que a manifesta falta de consideração por terceiros estimule essa tentação. Quanto às outras duas já aqui deixei, por mais de uma vez, a sugestão: aumentar, por exemplo 100%, a taxa de imposto sobre a pastilha elástica (excluo a política da chibatada praticada em Singapura) e impor uma taxa sobre a posse de cães.
No caso das chicletes é um produto que deve ser considerado como a poluição. Não se vê que necessidade satisfaça. Embora já haja pastilhas elásticas ecológicas, em geral, os seus restos precisam de ser tratados. Quando, como é regra, acabam no chão, o custo de as tentar limpar (nunca se limpa completamente) é maior que o seu preço. Sugestão ao Governo: cative a receita e entregue-a aos municípios para serem afectas a actividades de limpeza.
Quanto aos canídeos, sei que podem ser companheiros, guias e seguranças. Mesmo isso não justifica o estado de sujidade em que se encontram os nossos passeios e, pior ainda, os relvados. O que poderiam ser espaços aprazíveis para descansar, ou deixar as crianças brincar, estão, hoje, transformados em lixeiras e fontes de doença. Como em outras situações, não vejo razão para sermos todos a pagar o que é causado por uns tantos. A sugestão é a mesma que a anterior, podendo estabelecer algumas isenções para situações específicas. Em conjunto, permitiriam criar umas centenas de postos de trabalho pelo país, tornando-o mais limpo e usável. A grande maioria ficaria a ganhar e não vejo que razões poderiam invocar os que viessem a ser afectados pelas medidas propostas.
Ainda não será a crónica simpática pedida pelo leitor. Talvez até possam parecer sugestões um pouco "silly", a condizer com a estação. Se assim pensa, quero dizer que estou a falar a sério. Estes pequenos detalhes não resolvem os problemas fundamentais do país mas contribuiriam para aumentar a civilidade e o bem-estar da vida quotidiana.
P.S. O pedido de sugestões não vai sem resposta. Música portuguesa para as férias: Trobadour de Lula Pena e V de Tiago Guillul.