"A Voz de Trás-os-Montes" é um jornal que se publica há 70 anos consecutivamente. O último número tinha 80 páginas. É acarinhado e lido em papel, sem deixar de ter presença digital, porque as comunidades que serve ainda o partilham e ainda discutem, de viva voz, o seu conteúdo e os seus desafios.
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Celebrou 70 anos com uma conferência em Vila Real, no sábado passado, e relembrou-nos que a Imprensa de proximidade em Portugal é um assunto sério cujo apoio deve ser tomado em conta sempre que se fala de desenvolvimento regional e do problema do interior.
Mas "A Voz de Trás-os-Montes" é também a voz dos seus protagonistas. E nessa tarde de sábado fez-se ouvir, em Vila Real, lançando com clareza e acerto as mais importantes palavras de ordem:
Pessoas - O famigerado inverno demográfico tem de ser enfrentado; o reforço do poder de atratividade da região e medidas concretas para a remoção de obstáculos à natalidade são urgentes; pergunto-me o que terá sido feito do relatório da Comissão para uma política da natalidade em Portugal coordenado pelo professor Joaquim Azevedo em 2014?
Opções - Identificaram-nas, sem rodeios, o presidente da Câmara de Vila Real e o reitor da UTAD; no primeiro caso Rui Santos elege a aposta na captação de investimento privado e a ancoragem da notoriedade externa do território em grandes eventos que tenham raízes e sejam, por isso, naturalmente assumidos por toda a comunidade como é o caso do Circuito de Automóvel de Vila Real. Fontainhas Fernandes aposta na ligação da UTAD ao seu ecossistema natural, única forma de garantir uma posição saudável num ambiente académico-científico competitivo e centrípeto.
Persistência - O desafio em causa é um desafio estratégico; pressupõe um rumo que se consuma em décadas; por isso, as opções tomadas não podem ser postas em causa ano sim, ano não; como o caso da aposta no eixo Vila Real, Régua, Lamego, que depois de estudado (em candidatura apoiada por fundos comunitários) viu os seus investimentos voltarem à gaveta na transição de equipas gestoras do Programa Operacional Regional do Norte.
Estado - Por último, mas não menos importante, a região sabe que deve reivindicar mais presença do Estado; no entanto, não se trata já de reivindicar apenas a manutenção dos seus serviços de proximidade; trata-se, sim, de promover ativamente, em nome deste (ou de outros territórios) a atração de oportunidades de investimento; cabe aqui, por exemplo, a bem fundada reivindicação de uma ação concertada do Estado para a localização da fábrica da Tesla em Vila Real, ativamente defendida pelo seu presidente da Câmara com base em argumentos objetivos e diferenciadores.
Ouvimos com atenção, percebemos com clareza mas, mais uma vez, duvidamos do eco produzido.
Ficam-nos os 70 anos de "A Voz de Trás-os-Montes como penhor de persistência que à força de ser exemplo há de acabar por ser seguido!
* ANALISTA FINANCEIRA