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"Fechado para férias". O que deveria anunciar um período de descanso para retemperar forças será, este ano, para muitos, prenúncio de angústia. A incerteza sobre a reabertura da empresa após o período de interrupção da laboração junta-se às dificuldades económicas, para tornar Agosto no mês de todas as aflições, com as preces a prevalecer sobre as romarias. Ao contrário da canção, será Agosto, e não Setembro, que se desfolhará numa agonia lenta. Muito do pequeno comércio, de característica familiar, não se poderá dar ao luxo de feriar. Há sempre a esperança, mesmo que remota, de facturar algo mais, por pouco que seja. Em Agosto estarão abertos para férias. As férias dos outros. Volta-se ao passado, à expectativa de que sejam os emigrantes a salvar o mês. Fautores de esperança. Quem sabe, portadores das novas "cartas de chamada", a boa nova de empregos disponíveis nos países onde labutam.
Setembro será, por estas e outras razões, um mês de clarificações. Conhecer-se-ão a nova composição do governo (mesmo que seja a mesma), a avaliação da troika, as medidas compensatórias da perda de receita decorrente da decisão do Tribunal Constitucional, as orientações do orçamento para 2013. Muitos trabalhadores saberão se os seus temores eram fundados. A confirmar-se a desaceleração das exportações, o eventual alívio será apenas temporário. Para eles e para todos nós. O caminho para um "novo normal" é longo e cheio de obstáculos, sacrifícios e dificuldades. Pretender que assim não seja é legítimo. Tão legítimo quanto ilusório e perigoso.
Vai continuar a ser preciso fazer opções. A partilha de sacrifícios seguirá sendo um tema de discussão e polémica. Esta é uma boa altura para dar à estampa, e colocar a debate, algumas sugestões, às vezes contraditórias, que me foram sendo feitas. Há os que chamam a atenção para o enviesamento das análises da distribuição de rendimentos efectuadas com base nos valores brutos e não no que efectivamente se recebe ou naquilo a que se tem acesso. Os impostos, as transferências e os serviços gratuitos como a educação e a saúde deverão ser tomados em conta em qualquer caracterização rigorosa da situação, sem o que não será possível definir políticas adequadas, por mais que a ideologia marque, neste domínio, as opções.
A este propósito há quem sublinhe, em especial, as despesas com os serviços de saúde. "As pessoas não fazem a mínima ideia de quanto custam ao país as idas, desnecessárias, às urgências ou as análises e os exames que passam a vida a pedir". A possibilidade de, em breve, os hospitais estarem em condições de emitir uma factura virtual (que aqui defendi, há mais de dois anos), é uma boa notícia. Espera-se que ajude, alguns, a tomarem consciência de que o que é de graça tem de ser pago por alguém. E há muito quem comece a estar farto de pagar, ao ponto de haver quem sugira que se deveria acabar com o sigilo fiscal. "Se a lista de quem, e quanto, paga fosse pública, talvez houvesse alguns ricos que tivessem vergonha. Era interessante comparar a lista dos mais ricos com a lista de quem mais paga. Palpita-me que no topo da lista apareciam o Zeinal Bava, o Ferreira de Oliveira e o Mexia e não o Soares dos Santos, o Amorim e o Belmiro".
Perante a eventualidade de ficar sem todo ou parte do subsídio de férias e de Natal há quem, convencido de que, no curto prazo, é inevitável arranjar mais receitas, alvitre: "temos de evitar penalizar quem cria riqueza, sejam trabalhadores ou empresas. Aumentem as multas por excesso de velocidade. Estabeleçam um imposto extraordinário sobre o jogo: prémios acima de 1 milhão de euros pagam 50%. Se o Euromilhões sair em Portugal dava tanto como renegociar uma PPP".
E há os que continuam a olhar para a despesa: "os reitores deviam ter vergonha. Basta olhar para a lista de licenciaturas. Algumas deviam ser oferecidas só numa universidade. O que se pouparia dava para atribuir bolsas a todos os estudantes que tivessem de ser deslocados e sobrava muito dinheiro".
Bons temas para reflexão. Em Agosto, aberto para férias.
O autor escreve segundo a antiga ortografia