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João César das Neves escreveu em 1995: "Para saber o que alguém possui, deve olhar-se mais para o que mete na boca do que para o que mete ao bolso." (JC Neves, 1995, Perguntas sobre a Economia do nosso tempo, p. 244).
Trinta anos depois, vemos que Portugal gasta uma fatia maior do seu orçamento familiar em alimentação do que a média da UE e da Zona Euro. Em 2022, a percentagem de despesa em alimentação e bebidas não alcoólicas em Portugal foi de aproximadamente 19,1% do total. No mesmo ano, a média da Zona Euro foi de 12,9%.
Portugal está atualmente entre as economias da UE onde a despesa com alimentação tem um peso mais elevado no orçamento familiar. Por exemplo, em 2021, a Roménia (24,8%), a Lituânia (20,4%) e a Bulgária (20,1%) lideravam esta lista. Os países com menor peso da alimentação são a Irlanda (8,3%), o Luxemburgo (9,0%) e a Áustria (10,9%). Nestes países, o maior poder de compra e um custo de vida mais baixo em relação ao rendimento disponível fazem com que a despesa em alimentação represente uma percentagem bem menor do orçamento.
Portugal, como a generalidade dos Países Mediterrânicos (Sul da Europa), tende a ter uma despesa per capita mais elevada em fruta, azeite e hortícolas, devido à dieta mediterrânica. A despesa com peixe também é historicamente mais alta. Em contrapartida, os países da Europa Central e do Norte favorecem o consumo de carne e produtos derivados. Nos Países do Leste da Europa, o peso da despesa total em alimentação é frequentemente mais alto (como vimos no caso da Roménia e Bulgária), o que se deve a um menor rendimento disponível.
Para uma despesa média anual em redor dos três mil euros, os itens alimentícios mais procurados pelos portugueses são carne (706 euros), pão e cereais (456 euros), peixe e marisco (427 euros), leite e derivados (373 euros) e hortícolas e batatas (306 euros). Assim, considerando que o salário médio líquido mensal ronda os 1200 euros ou que a pensão média de 500 euros não atinge metade dos pensionistas em cada mês, bem podemos considerar que, em Portugal, fica muito caro abrir a boca para comer.