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Hoje, em Portugal, está na moda a discussão sobre a aprovação do Orçamento. Da fase do impasse parece estar a passar-se para a fase da depressão. São constantes as discussões sobre um documento que ninguém conhece. Poucas almas ainda se lembraram que existe um Parlamento eleito e cuja principal intervenção a nível legislativo é, nada mais, nada menos, a aprovação do Orçamento do Estado. Como antigo deputado à Assembleia da República não posso deixar de defender esta instituição.
O Orçamento não se discute nos jornais ou em círculo fechado. É discutido de forma livre no Parlamento, com debate e especial espírito de abertura numa situação de maioria relativa. Bem têm estado os grupos parlamentares, como o do CDS, que não falam sobre uma ficção orçamental. De facto, com esta honrosa excepção, pode concluir-se que o Mundo está muito estranho.
Talvez seja isso que explica a indiferença com que passa o anúncio de uma visita de Estado do presidente venezuelano, Hugo Chávez, a Portugal. O amigo do "Magalhães" está de volta. O defensor do socialismo real vai ser recebido de braços abertos. Não é aceitável que Portugal seja um dos palcos para um cenário cénico de Chávez.
Bem sei que a diplomacia se norteia cada vez mais pelo realismo, impulsionado pelas relações económicas. Defendo um mercado global. É por essa razão que considero a necessidade de regras claras para o comércio mundial. É, também por isso, que considero infeliz receber alguém que vive de um espectáculo mediático para sustentar o contrário. Numa altura de dificuldades é um sinal muito estranho. Depois de um grande sucesso diplomático, como a inclusão de Portugal no Conselho de Segurança da ONU, e quando se prepara a cimeira da NATO, uma pergunta se pode colocar: que porta se pretende abrir? Sinceramente, não sei.