A crise que a Igreja Católica está a viver é uma oportunidade única para se credibilizar e regenerar. Tudo depende da forma como for vivida e, hoje mais do que nunca, como for comunicada.
Corpo do artigo
Os abusos sexuais de crianças são gravíssimos porque põem em causa um dos aspetos mais determinantes da mensagem evangélica: a defesa dos mais pequenos, dos mais débeis e dos mais pobres. Não é por acaso que para esses crimes Jesus não tem qualquer complacência: "Se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem em mim, melhor seria para ele atarem-lhe ao pescoço uma dessas mós que são movidas pelos jumentos, e lançarem-no ao mar". (Mc 9, 42).
As vítimas, para além de serem abusadas, não foram escutadas: foram descredibilizadas, obrigadas a remeterem-se ao silêncio. Isso tornou a sua situação ainda mais dolorosa.
Felizmente o Papa Francisco decretou a tolerância zero, tanto para com os abusos, como em relação ao seu encobrimento. Todos na Igreja devem denunciar os casos às autoridades, quer a lei vigente nos diferentes países o imponha ou não. No caso português, só determinadas pessoas são obrigadas a fazê-lo.
Já antes de o Papa impor estas regras em 2019 havia na Igreja quem enfrentasse com determinação as denúncias que lhe chegavam. D. António Francisco, bispo do Porto, mesmo quando denúncias foram utilizadas para o chantagear - como se soube pela Comunicação Social -, não se acobardou. Enviou às autoridades competentes as denúncias de Roberto de Sousa sobre o seu antigo confrade Pe. Abel Maia.
Os abusos são uma ferida infetada na Igreja. Ainda que provocando muito sofrimento, esta tem de ser lancetada, desinfetada - e só então poderá sanar. Ficará a cicatriz para recordar que, nestes e noutros casos, não se podem ocultar os problemas e aguardar que estes se resolvam por si. Normalmente, agravam-se.
*Padre