Um abuso sexual, qualquer que seja, é grave. Ainda mais grave, no entanto, ou muito mais grave, se a vítima do abuso sexual for um menor ou uma criança. E ainda pior e mais reprovável se praticado por quem tenha um especial dever de proteção.
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O caso do dia é o de 16 soldados franceses acusados de abusos sexuais cometidos sobre doze menores (entre os 9 e os 15 anos, alguns deles órfãos), quando participavam numa operação militar na República Centro-Africana, entre 2013 e meados de 2014. Desde o verão de 2014, isto é do conhecimento das autoridades francesas, que instauraram um inquérito. Passado todo este tempo, nada.
Esses soldados, tanto quanto se sabe, eram abordados pelas crianças e menores no campo de M"Poko, junto ao aeroporto de Bangui, pedindo-lhes comida. Comida? Claro que sim, desde que se sujeitassem ao que aqui me dispenso de descrever e era praticado de forma quase pública.
Mais assustador ainda, o relatório foi enviado às autoridades francesas por um alto responsável das Nações Unidas, o sueco Anders Kompass, suspenso mesmo antes da saída do artigo do "The Guardian" que denuncia este escândalo, alegadamente porque as Nações Unidas queriam abafar o assunto. Prefiro esperar um pouco mais antes de lhe atribuir medalha, porque parece que o nosso Anders, por exemplo, pôs em risco a segurança das vítimas e das testemunhas, permitindo que fossem identificadas.
Para o que mais interessa, confirmam-se no entanto duas coisas. Primeiro, os capacetes azuis e outros soldados que participam em operações internacionais têm surgido sistematicamente associados a situações de abusos sexuais de maiores ou de menores. Desta feita foi em Bangui, num campo de deslocados e no âmbito da operação "Sangaris". Antes, tinha sido na Libéria, na Serra Leoa, no Haiti, na República Democrática do Congo, no Sudão ou na Costa do Marfim. É um padrão.
Depois, as Nações Unidas ficam péssimas no retrato. Porque fazem os seus inquéritos, naturalmente. Mas as conclusões, transmitem-nas ao país da nacionalidade do capacete azul em causa, o qual, quase sempre, assobia para o ar e mata o assunto porque não quer surgir na ribalta como o país do violador ou abusador. Também é um padrão.
No fundo, são dois padrões que se alimentam um ao outro. E os dois são repugnantes.
Os capacetes azuis [...] têm surgido sistematicamente associados a situações de abusos sexuais de maiores ou de menores