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René La Borderie, o maior especialista francês do audiovisual, surpreendeu-nos certo dia com a seguinte tirada: "Quando a estética se sobrepõe à qualidade de vida das pessoas, chama-se fascismo".
Nem mais, nem menos.Vem isto a propósito de ter ouvido a notícia de que a União Europeia iria adoptar directrizes respeitantes às pessoas com deficiência. Embora ignore qual, associei-a à deficiência física por ser a que mais vive os problemas da inserção na realidade.
E, aqui, a realidade chama-se Porto, onde existe uma herança de contradições e indiferença que afectam a qualidade da vida de quem se desloca em cadeira de rodas, sofre de dificuldades motoras ou de cegueira. Obviamente as escadarias seculares não podem subtrair-se (em Miragaia foram minimizadas com escadas rolantes), mas os projectos com acessos a condomínios ou espaços e edifícios públicos que não garantam as acessibilidades devem ser rigorosamente rejeitados.
Por estética abundam os elevadores precedidos de escadas, espaços públicos armadilhados, como no Largo do Amor de Perdição onde existem desníveis sem qualquer resguardo, até exposições onde painéis tapam os elevadores, a sede de uma Junta com sala de sessões num 4º. andar, cuja estética da reabilitação impediu ascensores, a escadaria monumental do Palácio da Justiça, os degraus no acesso do Bolhão ao Metro, etc.
E, já agora, informo que a Câmara do Porto lançou o Programa Nivelar para intervenção em habitações melhorando as condições de acessibilidade de pessoas com deficiência. No meu condomínio, há muito que uma escadaria foi substituída por rampa.
O autor escreve segundo a antiga Ortografia