Vou recuperar para a crónica de hoje a "rábula" do final da semana passada a propósito da decisão e sua imediata revogação do despacho sobre o ex-futuro novo Aeroporto de Lisboa.
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O povo na sua infinita sabedoria já ditou a sua sentença há muitos anos: "com papas e bolos se enganam os tolos".
Num primeiro momento, no curto espaço de tempo que mediou entre a revogação do despacho de Pedro Nuno Santos e a confirmação da sua continuidade no Governo, nada me ocorreu de especialmente intrigante. Nesse conjunto de horas limitei-me a considerar que o ministro teria cometido um erro de uma soberba grosseira e que isso terminaria com a sua saída do Governo, fosse ela a seu pedido, ou por iniciativa do primeiro-ministro. Devo dizer que o erro em causa me parecia tão ingénuo que suspeitei que ele tivesse sido instrumento propositado da vontade de Pedro Nuno Santos de sair do Governo, taticamente alarmado por uma súbita mudança de conjuntura apesar da maioria absoluta. Acontece que esta minha suspeita durou muito poucas horas, dado que foi prontamente "desmentida" pela reafirmação da sua continuidade no executivo.
Afastada esta primeira suspeita, como todo o caso escapa a qualquer lógica conhecida da nossa vida política, de imediato outra suspeita nasceu na minha mente de cronista. Como não me fica bem guardar segredo desta minha nova suspeita para os leitores do JN, aqui a passo a enunciar, sendo seguro que ela carece de demonstração evidente, mas também não é tão fácil de afastar como foi a primeira. A estranheza do primeiro despacho, somada à rapidez da revogação e a esse superinédito comportamento de tudo ficar na mesma no Governo depois do que aconteceu, não me deixa aceitar uma simples leitura linear.
Se todo este imbróglio merecesse uma boa aposta, eu estaria firmemente ao lado daqueles que apostassem que este facto político tinha sido criado com a intenção de matar dois coelhos com uma só cajadada. O primeiro caçapo seria impedir o agravamento da polémica centrada na falta de médicos e na catadupa de urgências hospitalares encerradas. Já o segundo caçapo teria a ver com a oportunidade de tentar ofuscar ou diminuir tanto quanto possível o impacto e notoriedade da entronização de Luís Montenegro no Congresso do PSD. Como diria um italiano "se non è vero..." Ou como poderia dizer o novo líder do PSD "acreditem se quiserem".
Empresário