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Veio a depressão Cláudia e com ela a confirmação (tantas vezes repetida) de que as nossas cidades não estão preparadas para estes fenómenos climáticos cada vez mais violentos e recorrentes. Morreram muitas pessoas devido às ondas de calor no último verão, a área ardida foi a maior desde 2017 e agora, em plena época de inundações, estamos sempre a constatar o óbvio: as consequências das alterações climáticas estão aqui (o futuro é agora e só tem tendência para se tornar mais exuberante e incontrolável).
Isto leva-me a pensar que, apesar de já se ouvir falar muito sobre a necessidade de travar o aquecimento global e suas consequências, não só as medidas concretas tardam em concretizar-se na escala necessária, como se fala pouco ou nada sobre adaptação. É que apesar da adaptação às alterações climáticas ser mais do que necessária, raramente ouvimos falar sobre isso nos média, nos discursos políticos e nos programas eleitorais. Ora admitindo que o clima está a mudar e que a fúria dos elementos se faz sentir cada vez mais vezes e de forma cada vez mais violenta, é fundamental criar recursos e estratégias de defesa, para minimizar os seus impactos.
O único momento em que se toca no assunto é em época de incêndios, quando alguns especialistas em floresta sublinham a importância de nos prepararmos para a inevitabilidade do fogo, não só reforçando os mecanismos de combate, como investindo em estratégias de atraso da progressão dos incêndios. Mas é preciso falar sobre estratégias de adaptação e minimização das consequências das inundações cada vez mais frequentes, assim como da subida do nível do mar e da consequente erosão costeira, como da possibilidade de aumento de pragas e doenças agrícolas, da escassez de água doce (que já é uma realidade no Sul do país), entre muitos outros problemas previsíveis e em agravamento.
Este pragmatismo pode salvar muitas vidas e deve ser assumido, não como um sinal de resignação à inevitabilidade do problema, mas no reforço da mobilização contra os fatores que promovem e aceleram as alterações climáticas. O mais importante deles é a nossa dependência de combustíveis fósseis, sendo que, segundo os especialistas, é urgente descarbonizar até ao final da década para aproveitar a derradeira chance de salvação da espécie. Para que essa meta se cumpra, a sociedade civil deve exigir aos decisores políticos uma mudança de paradigma, sem negacionismos, adiamentos ou concessões.
Quem tem filhos e netos tem o dever de defender o seu futuro. E a propósito, no dia 22 de novembro há uma manifestação no Largo de Camões em Lisboa (convocada por várias organizações) pelo fim dos combustíveis fósseis. É uma ótima oportunidade para juntarmos as nossas vozes, como humanos, pais, mães, avós, pessoas empáticas e conscientes, que sabem que se há causa unificadora deveria ser a ecologista, para clamar pela nossa sobrevivência no planeta!

