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A proibição dos tuque-tuques no Centro Histórico do Porto não é apenas uma medida administrativa – é um gesto de dignidade urbana. Depois de anos a tolerar o zumbido turístico, o excesso de ruído e a desfiguração dos sons naturais da cidade, o Porto teve a coragem de dizer basta.
A multiplicação dos tuque-tuques nos centros urbanos portugueses tornou-se uma espécie de caricatura do progresso: veículos sem enquadramento paisagístico nem regulamentação sonora, conduzidos muitas vezes por motoristas sem qualquer formação cultural, transformaram as zonas históricas em pistas de ruído, onde o passado se dissolve sob o barulho de altifalantes a anunciar paragens pitorescas. E o Porto, cidade que guarda nas pedras o peso do tempo, viu-se cercado por esse folclore mecanizado que não respeita nem o silêncio da Sé nem a solidão do Douro ao entardecer.
É preciso reconhecer que a decisão de proibir não é fácil. Vai contra interesses comerciais, desafia uma lógica de crescimento turístico que tudo aceita em nome do lucro rápido, e pode, por ora, gerar algum desconforto. Mas como não lembrar que Florença limitou os cruzeiros, Amesterdão taxou turistas, Barcelona proibiu novos hotéis no centro? O Porto não está sozinho: está, na verdade, a tempo.
Haverá quem diga que se perde uma alternativa de mobilidade suave. Mas a suavidade de um meio de transporte não se mede apenas pela sua velocidade ou cilindrada – mede-se também pela sua inserção urbana, pela sua elegância contextual, pela harmonia que propõe. E os tuque-tuques, tal como hoje existem, falharam nesse exame. A cidade precisa de mobilidade, sim. Mas precisa mais ainda de respeito.
Proibir os tuque-tuques não é ser contra o turismo. É ser a favor da cidade. As cidades não podem ser tratadas como produto.