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Adolescência é uma minissérie que está a dar que falar. Conta a história de um rapaz de 13 anos que matou uma colega. A série revê os ambientes em que o rapaz vivia, dando conta da sua relação com a família, do comportamento dos colegas e dos professores na escola, das atividades a que se dedicava. No contexto da escola, parecem ser generalizadas situações de bullying, violência e agressividade nas interações dos jovens entre si e com os adultos. Ambiente difícil para ensinar e educar. Na família, pais empenhados em proporcionar mais e melhor do que aquilo que tiveram nas suas infâncias. Mas também jovens em situações de isolamento dentro da família e muito tempo para interações com outros jovens conhecidos e desconhecidos, mediadas pelas redes sociais, na Internet e em espaços não regulados e inacessíveis aos adultos, espaços que escapam à atenção e compreensão dos pais.
Bullying, agressividade e violência sempre existiram. A série mostra como hoje estas situações ganharam novas formas, sendo potenciadas pelo uso de novas tecnologias que facilitam o isolamento e o alheamento da vida presencial em comum, das experiências que exigem proximidade para serem reguladas.
Educar é difícil. Não há receitas para conseguir bons resultados na educação de uma criança, depois adolescente, depois jovem. Não há lições a dar a famílias menos bem-sucedidas. Não há lugar a julgamentos. Todos conhecemos casos de famílias com problemas na educação dos seus filhos. Ou de um dos seus filhos. Todos conhecemos jovens para quem é mais difícil encontrar um caminho. Educar é mesmo muito difícil. É preciso humildade nos julgamentos e nas opiniões que emitimos. Antes de tudo, há a sorte. A sorte pesa mais do que muitas vezes reconhecemos. Depois, há a importância do não uso de violência no relacionamento dos adultos com as crianças e os jovens. Finalmente, há a absoluta necessidade, sobretudo na vida dos adolescentes, da presença de adultos atentos, interessados e disponíveis. Sempre, a presença atenta de adultos.
A série termina com a angústia dos pais que se interrogam sobre o que lhes faltou fazer, em que falharam como pais daquele adolescente (mas não da irmã). E esta é uma pergunta que, no contexto social retratado na série, não pode ter uma resposta apenas moral. Com jornadas de trabalho longas e duras é mais difícil aos pais ter tempo e disponibilidade para estarem atentos. É fácil julgar, sobretudo quando os recursos e o tempo disponíveis são outros. A série, e bem, testemunha apenas o que pode ser o sofrimento de pais e jovens na adolescência.