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As etapas do crescimento físico são muito percetíveis. Já no plano intelectual, é diferente. Um tipo pode ter uns bons 30 anos e ser uma criança. Na parte que se cruza comigo, percebi através da evolução do meu pensamento que só consegui atingir a maturidade depois dos 40 anos. Mantive os traços de personalidade, mas passei a ser, entre outras coisas, mais cuidadoso quando confrontado com o perigo ou a possibilidade de colocar os outros em perigo. Traduzido por factos, há dez anos circulava na estrada, sem qualquer problema, a 150 ou 180 km/h, mas hoje cumpro quase religiosamente os limites de velocidade, não obstante saber que essa prática não me coloca a salvo de um acidente. Ontem, cheio de pressa por uma questão familiar, abri uma exceção e acelerei a fundo. E então descobri como pode a evolução encerrar todo um Everest de perversidade. É inadmissível aceitarmos que alguém desenvolva uma aplicação para nos avisar onde estão os radares. Para podermos, como fiz, acelerar sem limites. Se há coisa que ainda não descobrimos como resolver neste admirável mundo novo da tecnologia é a regulação. E acredito que só seremos verdadeiramente adultos enquanto sociedade no dia em que o conseguirmos ou, no mínimo, fizermos alguma coisa por isso.
*Jornalista