Na última semana, a polémica instaurada pelo Governo lançando não uma, mas duas novas propostas de estruturas aeroportuárias, numa espécie de anúncio que soou a novo-riquismo, sem qualquer resquício de visão estratégica de médio e de longo prazo, sem respeito pelas instituições e mais parecendo uma brincadeira de mau gosto para com os portugueses/as.
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Ignorando a realização de quaisquer procedimentos de avaliação ambiental estratégica, quando se conhece, do senso comum, que no Montijo e em Alcochete há fatores semelhantes aos da Portela que deveriam ser um claro obstáculo à localização de um aeroporto, como o é, por exemplo, a proximidade a zonas residenciais com os impactos que isso traz para a saúde humana.
Contudo, nestes dois locais, acrescem questões de segurança, como o risco de colisão com a avifauna - onde se encontra, por exemplo, a maior concentração de flamingos. De resto, precisamente pelo risco de segurança e de perda de biodiversidade, num território classificado a nível comunitário, a Holanda uniu-se numa petição: "Montijo, não".
Incompreensível seria se o Governo vier a optar por construir um aeroporto naquela região, destruindo uma zona natural única, valor que será irrecuperável, para 20 anos depois - e de acordo com os cenários climáticos - vir a ter uma pista inundada. Uma tal decisão só poderá estar profundamente subserviente aos lobbies económicos, não obstante os sérios prejuízos para o país.
Para qualquer uma das opções, não há medidas de mitigação aceitáveis, particularmente quando no nosso país se continua a tomar decisões com uma visão demasiado curta no tempo.
Numa altura em que tanto se fala de descentralização, num país com a dimensão de Portugal, continua com estas manobras de distração o Governo a afastar o debate sobre a solução de Beja, que será mais económica (aproveitar o que já está feito) e com um comboio a uma hora e um quarto de Lisboa (num TGV ainda menos). Isto, não esquecendo os aeroportos mais pequenos, que podem ser aproveitados e fazer parte de uma rede eficiente, mas pelos vistos os conceitos de economia circular e de rede, esses, nem por despacho.
Dirigente do PAN