Há no "Retrato de um jovem", de Botticelli, que está na National Gallery, em Londres, uma certeza tranquila sobre a continuidade.
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As subtilezas, as sombras e significados projetados e intuídos, como aliás em qualquer grande quadro, perdem-se nas reproduções, mas ao vivo, aquele jovem, na sua serena e modesta confiança, diz-nos de frente que nada é realmente fácil e que, como foi antes, o é agora e será amanhã, nada é porém definitivo, que não há nada que não possa ser vencido. Ele sabe, ou parece saber, que o que interessa não são as minudências, nem os detalhes que nos consomem inutilmente. Tenham calma, assegura-nos, as coisas podem estar difíceis, são por vezes muito difíceis, mas os homens, amanhã como ontem, no limite saberão fazer as escolhas certas.
Gostava de ser tão otimista quanto acho que este jovem é, ou quanto aquela personagem do Kerouac que a tudo ia respondendo com um suave "mañana, mañana", como se o amanhã só pudesse ser melhor e mais luminoso. Não tenho esse otimismo dentro de mim, ainda que tenha aprendido que esperar pelo melhor é também uma escolha. Mas num Mundo com Trump, o melhor é esperar que haja melhores do que ele.
JORNALISTA