Para quem já se antevê na final com os alemães, recomendo especial marcação àquele ameaçador número 10, Schäuble, aspirante a bola de ouro. Dizia-se de Eusébio que era o abono de família dos jogadores encarnados. Este Schäuble exorbita: é, ele mesmo, o tesoureiro da liga europeia. Despertou cedo para a modalidade, na ala direita, desde os juvenis da CDU à queda do Muro de Berlim. E subiu às costas de Khol, famoso capitão da equipa germânica a quem eles devem a reunificação.
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O tiro de um adepto adversário, durante um desafio eleitoral, em 1990, lesionou gravemente o ponta de lança alemão. Joga agora em cadeira de rodas, mas remata velhaco com a língua. Pior é quando aponta o dedo à falta do vizinho (a dívida), para exorcizar a sua. E fez bem em responder-lhe Santos Silva, o nosso delegado, nas vésperas do Conselho Europeu de terça-feira, o encontro que decide em Bruxelas se levamos ou não cartão amarelo pelo fora de jogo no défice.
Com Schäuble na dianteira, numa economia alemã a gerar excedentes orçamentais, contra as regras do jogo, a estrela da seleção germânica é o Deutsche Bank. Em 2015 perdeu quase 7 mil milhões de euros, e as ações que valiam 100 em 2008 caem hoje para 10 vezes menos. Apontam o dedo a gregos, italianos, franceses, espanhóis e portugueses. Mas as nódoas do sistema financeiro global, a crise, que o banco alemão reproduziu à escala europeia, sujam-lhes e muito a camisola branca. Ainda não vimos tudo, depois dos 35 mil despedimentos e do abandono de 10 países (só em 2015), enquanto os seus chefes se multiplicavam em prémios. Aos "custos de reestruturação" somam também multas pesadas por conduta ilegal nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha, em Bruxelas e até na Rússia, onde tem 6 mil casos em litígio. Ainda há dias, o banco alemão foi multado em 2,252 mil milhões de euros por fintar a Libor (não confundir com Libor Kozák, o avançado checo), a taxa de juro interbancária do mercado de Londres.
A chave deste pré-colapso e o cartão amarelo dos mercados, que acabam de chumbar o Deutsche Bank nos testes de stress da Reserva Federal Americana, é a banca de investimentos alemã, especulativa como a da City britânica e com o mesmo jogo manhoso que levou à queda do Lehman. Antes da crise, a banca subsidiária do Deutsche gerava 70% dos lucros no negócio do grupo. Agora, é um "perdócio", com rasto nos escândalos de maquilhação de contas ou na especulação sobre taxas de juro em vários países do mundo. - Schäuble, meu impostor, connosco vais de trivela!, mas não creio que terá sido bem assim que lhe escreveu Santos Silva.
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