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Acusações de chantagem, opacidade e até de atos intimidatórios. Empresas e famílias confrontadas com expropriações que não estavam previstas, com a consequente incerteza sobre o futuro. É nisto que se está a tornar um projeto que prometia ser transformador, até revolucionário. Um passo em direção ao futuro, com a ligação de TGV entre Porto e Lisboa em cerca de uma hora e um quarto, e, no futuro, até à Galiza e à rede europeia de alta velocidade, que agora tropeça nas dúvidas e quase na certeza de que o que aí vem será, como quase sempre nas grandes obras públicas, um conjunto de trapalhadas mal resolvidas e esclarecidas, com decisões tomadas por pessoas que ninguém conhece e interesses que ninguém consegue decifrar.
No centro da confusão estão as mudanças no troço final de Gaia e Porto. Desde logo, a mudança de estação de Gaia, que nos venderam como essencial, apesar de tão próxima do Porto, por garantir a mobilidade metropolitana, ao ligar-se às linhas Amarela e Rubi do metro. Mas isso foi lá atrás, agora concluiu-se que fazê-la em Santo Ovídio seria complexo (leia-se caro), e afasta-se para Vilar do Paraíso, mesmo que por ali não haja linha de metro nem garantia de que alguma vez se faça. A ponte única sobre o Douro com um tabuleiro ferroviário e outro rodoviário, afinal, serão duas. A nova estação de Campanhã, que era para ser de uma forma, será de outra (e mais barata). E as expropriações, ou seja, a quantidade de empresas e pessoas que ficarão sem instalações e casas também aumenta: são agora 236. Sacrificar os negócios e as vidas dos outros é fácil.
Na verdade, nenhum cidadão comum consegue avaliar o benefício ou o prejuízo destas mudanças. Mas não basta dizer, como faz essa organização opaca chamada Infraestruturas de Portugal, que o consórcio que venceu o concurso pode alterar o projeto. Para citar o que disse, há um mês, o ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, é preciso fazer uma avaliação política. E explicar, numa linguagem compreensível, os custos e os benefícios. Para os cofres do Estado, para a mobilidade, para as empresas e famílias afetadas. Acredito que o fará, mas tem de acelerar, que o projeto segue a alta velocidade, não há tempo para parar em todas as estações e apeadeiros.

