Escândalos à parte, ao menos os de Vila das Aves hão de fazer soar concertinas, e há de cheirar a torresmos, sardinha assada e coiratos por todo o festivo Vale do Jamor, seja qual for o resultado da Taça. O problema é depois - agarrem-se, que chegaram as curvas.
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Quando amanhã voltarmos à rotina da semana, o preço do barril de petróleo já terá superado os 80 dólares, duplicando pela primeira vez os valores de há quatro anos, enquanto o que pagamos por cada litro de combustíveis atinge novos máximos anuais. Esta escalada é boa notícia para os países produtores, alguns deles nossos parceiros lusófonos, como Angola e o Brasil, mas penaliza duramente as expectativas da economia portuguesa, cujas contas do Orçamento do Estado foram feitas com base em previsões 20% mais baixas para o preço a que compramos crude nos mercados internacionais. Entre nós, o agravamento pode ultrapassar os 1200 milhões de euros subtraídos à riqueza anual, um efeito negativo que resulta da nossa ainda excessiva dependência energética em relação aos combustíveis fósseis.
O aumento rápido dos preços tem um contexto: é razão e consequência da crescente instabilidade geopolítica, em especial no Médio Oriente, e é o principal estilhaço da decisão de Donald Trump retirar os Estados Unidos do acordo nuclear com o Irão. Em resultado das sanções impostas, calcula-se que a produção mundial de petróleo cairá perto de 500 mil barris diários, pelo que a pressão geoestratégica tenderá a agravar o preço, nos próximos meses.
Mal sabia Lord Fisher, o primeiro do almirantado inglês, que ao substituir carvão por petróleo em toda a frota da marinha real britânica estava a configurar o Mundo em que ainda hoje vivemos, mais de um século depois. A primeira vez que se provou a eficácia do petróleo como arma estratégica e sumo fazedor do Mundo moderno foi a bordo dos barcos japoneses quando, em Port Arthur, em 1905, acabaram com o sonho da armada imperial russa. E isso, com a bênção e para grandeza de sua majestade britânica.
Mais de 100 anos depois, e apesar de todas as invenções do génio humano, aquele combustível fóssil continua a ser determinante para a configuração do mapa em que navegamos. O atual mercado petrolífero é dominado pelos três maiores produtores do Mundo - a Rússia, a Arábia Saudita e os Estados Unidos. São eles que ditam a regra. Foram eles que incendiaram a Síria. São eles os verdadeiros senhores da guerra que aí está. É Trump quem leva a taça.
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