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Sou fã dos Celtics desde que em 1987, na minha primeira viagem à América, entrei por Boston, descendo depois até Nova Iorque, com escala em Fall River, New Bedford, Providence..., as comunidades portuguesas da Nova Inglaterra. O Boston Garden foi um daqueles casos de amor à primeira vista, potenciado pelo deslumbramento pelos States e os campeões da NBA, a mítica equipa de Larry Bird (33) e que integrava Robert Parish (00) , Kevin McHale, Danny Ainge, etc. Fiquei fã dos Celtics e da NBA. Na madrugada de hoje, prefiro que os San Antonio Spurs arrumem de vez com os Miami Heat, mas sei que não preciso de estar a apoiar nenhum deles para ver com a respiração suspensa o jogo 5 dos playoffs finais.
A superioridade da NBA é essa. Nove em cada dez jogos de futebol são uma chatice. O que tem de belo e emocionante cabe num resumo de cinco, dez minutos o máximo. O resto é um aborrecimento. A paixão irracional por um clube gera a adrenalina que nos mantém acordados. Se não estivermos a torcer por um deles, o jogo é um enorme bocejo, um espetáculo desinteressante. Para não adormecer num jogo em que não entram Porto ou Portugal, socorro-me do truque de apoiar os mais fracos - é a minha costela Robin Hood.
Na NBA, o ritmo dos jogos, a beleza das jogadas, os malabarismos dos jogadores, as reviravoltas no marcador, a incerteza sobre o resultado final, prendem-nos a atenção. É como se estivéssemos a ver o Cirque du Soleil, ou a assistir ao espetáculo da guerra pela liderança do PS, que nos vai entreter este verão, impedindo que os incêndios voltem a abrir os telejornais e a fazer as primeiras páginas dos jornais desinspirados, mal acabe o Mundial e o cansativo episódio do joelho do Ronaldo.
Estou em crer que a novela socialista, que estará em cartaz até ao início do outono, pode tornar-se tão apetitosa e palpitante como um jogo da NBA. Sei que o Costa não é o Manu Ginobili e que o Seguro não é o Lebron James. Mesmo assim, acredito que esta guerra da rosa reúne os ingredientes necessários a ser um campeão de audiências - e a ter, na vida real, o estrondoso sucesso que a House of Cards tem na ficção televisiva. Está lá tudo. A ambição política desmedida. A disponibilidade para sorrir enquanto se espeta uma faca nas costas do adversário. A notável capacidade para mudar de ideias e projetos ao sabor das circunstâncias, pois elas não são convicções tatuadas na pele, mas são tão-só armas táticas, roupas que se vestem e despem à medida das conveniências.
Costa e Seguro ainda não alcançaram o sublime patamar de Frank Underwood. Mas andam lá perto. Por isso, é legítimo aguardar que a traição, as caneladas debaixo da mesa e as pulhices façam com que a guerra civil socialista seja mais apaixonante do que um sensaborão jogo de futebol e se transforme num fantástico jogo da NBA, em que não é preciso ser fã dos Spurs ou dos Heat para ficar preso ao ecrã. Espero que seja assim. Até porque se não for, vai ser uma grande chatice, pois não estou disponível para torcer por um deles. Até porque, ao fim e ao cabo, Costa e Seguro são os dois do Benfica.