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Contrariando a ideia de que o Mundo (e a cidade) estão perdidos e dantes é que era bom, surgem sinais de que não é bem assim. Afinal o declínio e morte residencial e comercial não começaram com o turismo e nem sequer agora. Os cafés, por exemplo, foram mortos a tiro de entidades bancárias que nem ao menos se deram ao cuidado de respeitar a arquitectura de alguns.
E há pouco sucedeu o contrário do que os profetas da desgraça anunciam. Uma cadeia de “fast food” (vulgo comida de plástico) valorizou o que o Café Em-baixador não fizera: as notáveis pinturas de João Martins da Costa. Já antes, outra das tais cadeias tinha mantido intacto o mais belo café do Porto - o Imperial, na Praça. Está lá tudo, só mudou a comida.
Pelo contrário, os ventos dos renovadores caseiros fizeram desaparecer o Saban, o café e os painéis de António Coelho de Figueiredo, que o decoravam. E no Ceuta, pelo que consta, os ex-proprietários taparam as decorações sobre as quatro estações do ano, também de Coelho de Figueiredo, com outras alusivas ao nome do café. Se eu fosse aos actuais donos, restituía ao nosso olhar as primitivas, muito mais valiosas. (O autor executou cinco murais alegóricos no Palácio de Justiça, que demonstram a sua categoria.) Até a pintura de um jovem artista (cujo nome não recordo), no café da Cancela Velha, foi para o maneta há um bom par de anos.
E os tempos actuais ainda nos brindaram (através de outra cadeia de comeres) com a assombrosa fantasia de Joana Vasconcelos, na parede de um prédio do Moinho de Vento. Afinal o Mundo (e a cidade) não vão tão mal como os pintam. Haja fé.
O autor escreve segundo a antiga ortografia