No princípio do século XX, greves de polícias varreram vários países ocidentais, do Reino Unido aos EUA e à Austrália. Os sindicatos nascentes, mal institucionalizados, resistiam ao custo de vida, à miséria, e a um trabalho desumano.
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As ruas das grandes cidades passaram, na emergência, a ser patrulhadas pelo Exército, pela Guarda Nacional, por voluntários ou guardas privados. Muitos "agentes da ordem", condecorados na Primeira Guerra, viram-se, de repente, apelidados de "desertores".
Muita água correu, entretanto, debaixo das pontes.
Em sede geral, o Mundo organizado criou leis, a definir o estatuto dos corpos policiais, colocando-os como entidade ou paramilitar, ou plenamente civil, ou de funcionalismo público especial. Várias ordens jurídicas separaram a Polícia administrativa, em geral desarmada e às vezes sem uniforme, da Polícia de segurança ou das guardas nacionais (constabularies, gendarmeries), organizadas para combater a violência e a insegurança, e com poder legítimo de vida e morte sobre os transgressores.
Em geral, os últimos 40 anos trouxeram aos polícias profissionais a equiparação a outros trabalhadores, em negociação colectiva, discussão de estatutos e organização laboral, direitos de petição e manifestação, etc..
Mas a maior parte dos países continuou a não reconhecer o direito pleno à greve, no caso de polícias armadas, ou guardadoras do "bem essencial" da protecção pública. Na Europa, a Roménia e a Holanda ficaram como excepções, mas no primeiro caso há um corpo especial de segurança, para além da Polícia, sem direito à greve, e no segundo carece-se de apreciação prévia pelos tribunais.
Em Portugal, a sindicalização policial tornou-se normal. E embora o artigo 270 da Constituição preveja a possibilidade de proibição do direito à greve, por lei ordinária, e a lei 14/2002, artigo 3.d), tenha consagrado essa interdição, a ascensão plena dos polícias ao funcionalismo público (Lei 12-A/2008) pode ter gerado ambiguidades.
Eis um ponto que merecia uma revisão clarificadora da Constituição, em vez de discutirmos bagatelas.
Não se pode brincar com a segurança, esteja ou não Obama no rectângulo.
Mas não devemos também esconder os graves problemas que vivem os agentes da PSP, no cumprimento de um serviço intransmissível, sacrificado e ingrato.